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Juliana Caribé: A mulher que fez as pazes com o próprio corpo fotografando a si mesma

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Veja publicação original: Juliana Caribé: A mulher que fez as pazes com o próprio corpo fotografando a si mesma

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Foi com a máquina fotográfica que Juliana Caribé, aos 33 anos, redescobriu suas formas, curvas e seu jeito de fazer poesia. “Sinto que foi naquele momento que eu comecei a ir de encontro comigo mesma.”

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Os traços tatuados nas costas trazem a frase “meu corpo, meu poema”. Mas foi com a máquina fotográfica nas mãos, que Juliana Caribé, 33 anos, realmente descobriu suas formas, curvas e sua forma de escrever poesia. Ela passou por fases introspecção e transformação quando se tornou mãe há três anos, e para fazer as pazes com o próprio corpo e voltar a se reconhecer passou a se fotografar nua. O processo foi tão conciliador que ela sentiu a necessidade de fazer o mesmo por outras mulheres e acabou criando o projeto Toda Nudez, onde elas encontram espaço para se olharem e se reconciliarem com sua essência.

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O primeiro contato de Juliana com a fotografia foi aos 19 anos. Ela saiu de casa com uma cybershot emprestada pelo namorado e fotografou uma flor, quando chegou em casa percebeu que tinha uma abelha na foto e sentiu que aquilo era um sinal. Começou a treinar o olhar e a pensar mais antes de apertar o botão. Fez o curso de Letras na universidade e depois estudou um ano de fotografia. Começou a trabalhar em uma agência de publicidade e nos fins de semana fotografava ensaios de família, partos e festas infantis. Depois que Maria Flor nasceu, passou a se dedicar ainda mais para as fotos.

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A fotografia é algo muito intenso na minha vida. É o que me move, o que me alimenta.

TATIANA REIS/ESPECIAL PARA O HUFFPOST BRASIL
“Eu vi uma mulher bonita, me senti livre quando me vi nas fotos.”

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“A fotografia é algo muito intenso na minha vida. É o que me move, o que me alimenta, ainda que seja uma profissão muito instável. Mas eu não fotografo só pra trabalhar, amo fotografar quem eu gosto e depois mandar as fotos pras pessoas e ver que elas gostam. A foto é o que fica da vida, são nossas memórias”.

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Depois de perder o pai, o nascimento da filha foi um divisor de águas na vida de Juliana. “A única coisa que eu conseguia fazer era cuidar da Maria Flor, tinha muito essa coisa construída de que depois que a gente é mãe, só faz isso. Entrei num processo louco de me desfazer tudo o que eu tinha, sapatos, roupas, livros, dvd. E quando ela tinha uns 8 meses eu comecei a voltar, mas tinha dado tudo, não existia mais nada e eu lamentava muito a perda minha vida anterior. Foi tudo muito difícil, e só depois percebi que tinha entrado numa depressão”, conta.

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Fotografo todo mundo com todo amor e meu carinho, oferencendo meu olhar menos carregado de julgamento, por que eu não faço isso comigo mesma?

TATIANA REIS/ESPECIAL PARA O HUFFPOST BRASIL
O primeiro contato de Juliana com a fotografia foi aos 19 anos.

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Em busca de reconexão, ela decidiu se fotografar sozinha em casa nua, em busca de uma chance para tentar se reconhecer de novo. “Eu estava com a auto-estima muito baixa, me achando muito feia. E pensei: fotografo todo mundo com todo amor e meu carinho, oferencendo meu olhar menos carregado de julgamento, por que eu não faço isso comigo mesma?”. Ela usou um tripé, o timing da câmera, se despiu e, de fato, mudou seu olhar.

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Foi revolucionário, de verdade, eu vi uma pessoa que não era a pessoa que eu via no espelho, eu vi uma mulher bonita, me senti livre quando me vi nas fotos. Sinto que foi naquele momento que eu comecei a ir de encontro comigo mesma.

TATIANA REIS/ESPECIAL PARA O HUFFPOST BRASIL
Em busca de reconexão, ela decidiu se fotografar sozinha em casa nua, em busca de uma chance para tentar se reconhecer de novo.

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“Foi revolucionário, de verdade, eu vi uma pessoa que não era a pessoa que eu via no espelho, eu vi uma mulher bonita, me senti livre quando me vi nas fotos. Sinto que foi naquele momento que eu comecei a ir de encontro comigo mesma. Foi o primeiro passo pra sair daquele desespero de não saber quem eu era. Ali, naquelas fotos, eu não era mãe da Maria Flor, eu era uma mulher, eu era a Juliana”.

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Logo depois do ensaio, ela fez um mapa astral e uma das indicações era que ela precisava fazer um trabalho voluntário e algo que envolvesse sexualidade. “No dia seguinte acordei com o projeto na cabeça”. Surgia o Toda Nudez Será Permitida, uma brincadeira com a famosa frase de Nelson Rodriguez “toda nudez será castigada”. Inicialmente, a ideia era fotografar nus de pessoas que quisessem entrar em contato com seu corpo, a primeira pessoa foi um homem. “E eu logo entendi que não era um projeto pro público masculino, porque pra ele foram só fotos bonitas, não tinha o mesmo significado que tinha para as mulheres. Elas tinha outra percepção, ficavam gratas por se olhar e escrever sobre si mesmas. E é fato de que a maioria das mulheres não faz isso, não olha pros próprios corpos e ainda carrega o peso de se encaixarem num padrão”.

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É libertador pra elas como foi pra mim, é um processo de cura.

TATIANA REIS/ESPECIAL PARA O HUFFPOST BRASIL
Até o momento, Juliana já fotografou mais de 20 mulheres para o projeto.

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Juliana já fotografou mais de 20 mulheres para o projeto. Os dias de ensaio são longos e intensos. “Começamos conversando sobre sociedade, padrões, machismo. Sobre as dores delas e minhas, é uma troca bem profunda”. Segundo a fotógrafa, ao tirar a roupa, as mulheres começam a se despir delas mesmas. “Claro que rola uma vergonha porque é difícil se olhar e se tocar, mas elas já saem dali transformadas, de atitude, do jeito de falar, da postura, dá pra ver, é libertador pra elas como foi pra mim, é um processo de cura. E cada vez que eu fotografo é uma coisa que eu revejo da minha vida, é muito forte e poderoso pra mim, eu me curo também”, revela.

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As mulheres precisam tomar posse de quem elas são, se sentirem poderosas, se libertarem.

TATIANA REIS/ESPECIAL PARA O HUFFPOST BRASIL
Segundo a fotógrafa, ao tirar a roupa, as mulheres começam a se despir delas mesmas.

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A fotógrafa ainda não sabe qual será o futuro do projeto e nem onde sua câmera a deve levar. “Esse projeto me deu sentindo, me tirou de uma solidão. Confesso que estou com medo dele acabar e não saber o que fazer depois”, diz. Ainda que não saiba onde o caminho a levará, Juliana acredita na transformação das mulheres e no poder do ressignificado de Toda Nudez.

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“As mulheres precisam tomar posse de quem elas são, se sentirem poderosas, se libertarem. E ainda vivemos numa sociedade repressora, é muito louco isso, o tanto que a gente se diminui, não se valoriza, não acha que é boa suficiente, mas você é. Esse entendimento que elas têm depois das fotos é incrível. Não é só a ressignificação do corpo, mas de quem a gente é. Estamos aprendendo a ter mais compaixão com a gente mesma, o que pessoalmente, também é uma luta pra mim. Mas, tá tudo bem”, resume.

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Ficha Técnica #TodoDiaDelas

Texto: Tatiana Sabadini

Imagem: Tatiana Reis

Edição: Andréa Martinelli

Figurino: C&A

Realização: RYOT Studio Brasil e CUBOCC

 

 

 

 

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