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Grafiteira usa arte para promover o empoderamento feminino: ‘Emoção’

Saiu no site G1

 

Veja publicação original: Grafiteira usa arte para promover o empoderamento feminino: ‘Emoção’

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Pinturas valorizam o espaço da mulher na sociedade. Ela acredita que o grafite e a arte podem contribuir para um país melhor.

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Por Isabella Lima

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As diferentes características da mulher brasileira são retratadas na arte urbana da grafiteira e artista Aline Benedito, de 39 anos. O grafite dela expressa, nos ambientes urbanos da Baixada Santista, no litoral de São Paulo, o empoderamento e o protagonismo feminino na sociedade.

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Pioneira do grafite feminino na cidade de Santos, ela relata que o começo do trabalho foi solitário, apesar de ter tido apoio de homens grafiteiros da região. “Depois de um tempo, outras mulheres começaram a trabalhar com isso, mas, infelizmente, ainda cria-se uma rivalidade feminina muito grande, fruto do nosso histórico machista”, relata.

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A pintura da santista é marcada pela representação da mulher nos espaços públicos, utilizando cores fortes que remetem ao poder feminino e destacam sua luta social pela igualdade e liberdade ao gênero. “Grafito há 13 anos. Me apaixonei pelo grafite ao ver uma parede destruída ficar transformada. Percebi que queria fazer aquilo o resto da vida. Tento retratar as mulheres ‘bruxas’, forma como fomos julgadas e queimadas há milhares de anos atrás pelos nossos saberes”, diz.

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Utilizando o pseudônimo ‘Fixxa’, ela começou a ter sua arte reconhecida e ganhou um prêmio para representar a Baixada Santista na Espanha. No país, Aline fez uma residência artística e desenhou em uma estação de trem histórica. Além disso, a artista também já pintou por lugares de todo o Brasil, entre eles Tambaú, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Campinas, São Paulo e Recife.

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Artista foi convidada para grafitar em uma estação de trem histórica em Basco, na Espanha — Foto: Arquivo pessoal

Artista foi convidada para grafitar em uma estação de trem histórica em Basco, na Espanha — Foto: Arquivo pessoal

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Hoje, além de grafitar, ela trabalha como educadora, disseminando a arte de rua. Por trabalhar também com sticker (modalidade de arte urbana que utiliza etiquetas adesivas) e lambe-lambe (poster de papel colado com cola, geralmente em muros e postes), as artes dela já estiveram no Japão, Alemanha e na Arábia.

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Preconceito e obstáculos

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Apesar de não ter sofrido preconceito no meio artístico do grafite, Aline relata ser uma exceção, já que muitas amigas sofreram para entrar nessa cultura de rua. “Os caras não acreditavam que elas conseguiriam por serem mulheres”.

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Para a artista, trabalhar na rua é um ato de amor, que envolve muita dedicação e trabalho braçal. Ela também destaca que o mundo do grafite é uma cultura que aproxima as pessoas, e apesar dessa manifestação artística ainda sofrer um grande preconceito, ganhou uma proporção muito grande e representatividade.

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Uma das artes mais desafiadoras para a grafiteira foi em frente a rodoviária de Santos, na Vila do Teatro. “Eu tinha quebrado a bacia, estava há cinco meses sem fazer nada e aceitei o desafio de fazer aquela arte com um andaime. Foi um dos meus primeiros desenhos de grande proporção”, conta. Mesmo com os desafios, Fixxa relata que os obstáculos são recompensados ao ver que seu trabalho ajuda outras pessoas e ‘colore a realidade’ de diversas comunidades.

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Obra feita por Fixxa é um dos destaques na rodoviária de Santos, SP — Foto: Arquivo pessoal

Obra feita por Fixxa é um dos destaques na rodoviária de Santos, SP — Foto: Arquivo pessoal

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Projetos Sociais

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Aline relata que faz parte de um grupo que reúne mais de 500 mulheres grafiteiras do país e que já participou de diversos projetos sociais com o grafite. A artista conta que já trabalhou no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), com os menores assistidos, sendo uma das experiências mais importantes da sua trajetória. “Acredito que só a arte consegue salvar as pessoas. Era um momento de grande reflexão para eles, onde sentiam que tinham outras possibilidades. A arte é essencial, ou você faz ou você consome, é algo que ninguém fica sem”.

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Ela também está finalizando um livro de xilogravura feito com moradores de rua. “A obra se chama Sentindo o Semelhante e consiste em desenhos feito nas costas de um morador de rua. Enquanto faço isso, eles desenham na madeira o que estão sentindo. Fiz esse projeto durante seis meses na região do mercado”, conta.

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“Esse trabalho é uma forma de devolver para a rua tudo que ela me deu. Se hoje eu vivo da minha arte, do meu trabalho, é graças às oportunidades que tive e das pessoas que me acolheram. Foi um projeto bastante doloroso, mas também muito bonito, porque eu senti a confiança daquelas pessoas comigo”, relata.

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Pintura feita na comunidade da região do Mercado Municipal de Santos, SP, fez menino dizer que nunca tinha visto sua casa tão bonita — Foto: Arquivo pessoal

Pintura feita na comunidade da região do Mercado Municipal de Santos, SP, fez menino dizer que nunca tinha visto sua casa tão bonita — Foto: Arquivo pessoal

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Representatividade feminina

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A grafiteira já fez um projeto em uma penitenciária de São Paulo, em que a maioria das mulheres eram estrangeiras, as chamadas ‘mulas’, que entram no país com drogas. Ao pintar o rostos dessas carcerárias, Aline afirma que percebeu o quanto a arte é universal. “Existiam mulheres do mundo todo, que falavam diferentes línguas, mas, por meio da arte, consegui me comunicar com todas elas. Foi uma troca e uma emoção muito grande”.

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Fixxa também acredita que seus desenhos podem ser um incentivo para que outras mulheres se sintam representadas e atuem no mundo da arte. “Quero fazer as pessoas refletirem e mostrar meu respeito com as ruas e as pessoas que vivem e passam por ali. Eu torço muito pelas mulheres, para que elas tenham força e ocupem os espaços. Desejo um mundo mais igualitário, em que elas sejam felizes fazendo o que quiserem”, finaliza.

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Grafite feito por Aline no Rio de Janeiro, em homenagem às mulheres guerreiras da Babilônia — Foto: Arquivo pessoal

Grafite feito por Aline no Rio de Janeiro, em homenagem às mulheres guerreiras da Babilônia — Foto: Arquivo pessoal

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Aline acredita que a arte é capaz de transformar a realidade de crianças da comunidade — Foto: Arquivo pessoal

Aline acredita que a arte é capaz de transformar a realidade de crianças da comunidade — Foto: Arquivo pessoal

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