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Gaslighting no trabalho: o que é e como ele prejudica sua carreira

Saiu no site FINANÇAS FEMININAS: 

 

Veja publicação original: Gaslighting no trabalho: o que é e como ele prejudica sua carreira

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Por Ana Paula de Araujo

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Relacionamentos abusivos também podem acontecer na carreira sem você perceber. A prova é o gaslighting no trabalho: um fenômeno que mais e mais mulheres vêm percebendo que são vítimas – e que pode ser difícil de se livrar.

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“Eu achava que era louca, que eu, de fato, tinha exagerado. Procurei um psiquiatra na época”, resume Alice*, roteirista e editora de vídeos. “Um dos sócios tentava me taxar de louca para jogar em mim a responsabilidade de tudo que acontecia.”

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O gaslighting no trabalho é uma das faces do assédio moral que tantas mulheres precisam lidar – e saber o que é isso é o primeiro passo para saber se você é vítima e como escapar dessa situação.

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O que é gaslighting?

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Ele nada mais é do que uma das muitas formas de abuso psicológico, na qual o abusador distorce, omite ou inventa fatos para que a vítima duvide de sua própria sanidade, memória e percepção. Esse termo surgiu a partir de uma peça de teatro chamada Gaslight que, em 1944, foi adaptada para cinema (em português: À Meia-luz).

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No enredo, uma mulher muito rica é manipulada por seu marido, até que ela e todos à sua volta pensem que ela está louca, resultando em sua internação.

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O mesmo jogo de esconde-esconde de fatos atingiu Alice. Este diálogo aconteceu entre os dois:

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“Alice, você fez a pesquisa que eu te pedi?”
“Fiz, sim.”
“E o vídeo, terminou de editar?”
“Não, você pediu prioridade na pesquisa.”
“Você é muito desatenta, pedi os dois! Você está atrasando a empresa e o cliente!”

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E era assim que a culpa sempre recaia nela, e não em seu ex-chefe. Nas próprias palavras da roteirista, ela se sentia “um lixo.” “Eu ficava mal, corria para fazer o vídeo. Pensava que eu tinha algum problema para ser tão desatenta. Mas, quando a poeira baixava, ele dizia que eu tinha exagerado, que não precisava ter ficado até a madrugada fazendo o vídeo, pois tinha muito tempo para entregar e, por isso, havia pedido prioridade na pesquisa”, conta.

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A manipulação que acontece no gaslighting está diretamente relacionada a uma relação de poder. “Homens e mulheres podem sofrer com isso, porém, ele acaba recaindo com mais frequência sobre os discursos que já são desacreditados socialmente e que têm menos poder na estrutura desigual de sociedade em que vivemos, como as mulheres e outras minorias. Gaslighting é uma relação que existe somente quando um tem poder discursivo sobre o outro, e um discurso anula o outro apenas pelas diferentes posições de poder que ocupam”, explica Marina Garcia Sawaya, psicóloga e psicanalista da Casa Ayne de Cultura, espaço que oferece assessoria jurídica, contábil, psicológica e financeira à mulher.

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Por exemplo, ao discordar da vítima, o agressor não argumenta mas, sim, rebate sua fala com um discurso que anula tudo que foi dito e qualquer chance de discussão. Algumas das expressões mais recorrentes são:

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  • Você é/está louca;
  • você não sabe;
  • você está errada;
  • era uma brincadeira, você não tem senso de humor?
  • Você é sensível demais.

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Alice ouviu essas e outras frases repetidamente, até que decidiu pedir demissão – não antes de ter sua autoestima completamente destruída. “Como essa produtora foi meu primeiro emprego, confesso que até hoje, no meu campo de trabalho, fico ansiosa e me culpo toda vez que algo sai errado, mesmo quando não é da minha alçada”, desabafa.

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Gaslighting no trabalho – e como ele afeta sua autoestima e carreira

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“Ele pode afetar diretamente a carreira de uma mulher, fazendo com que ela perca sua identidade profissional, autoconfiança e capacidade de tomar decisões”, afirma Cynthia Lemos, psicóloga empresarial e coach na Grandy Desenvolvimento Humano.

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Isso acontece porque a vítima fica tão fragilizada, insegura e limitada que passa a duvidar de si mesma, a ponto de muitas vezes sequer conseguir executar seu trabalho. A demissão pode ser uma consequência. “Sem falar em todos os danos emocionais e morais”, completa Lemos.

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Como identificar o gaslighting

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As frases que costumam ser ditas pelos agressores são apenas uma das formas de saber se você está sendo vítima de gaslighting. No entanto, você precisará exercitar seu poder de observação – de si mesma e do ambiente de trabalho em geral.

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“Provavelmente, você tem seu jeito de trabalhar e uma forma de conduzir suas tarefas. Comece a perceber o que mudou. Às vezes, você estava crescendo e fluindo e, de repente, começou a se perceber mais insegura, principalmente diante de um gestor ou colega especificamente”, orienta Lemos.

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Observe o comportamento desse colega ou gestor. Ele distorce as informações ou tarefas que vocês combinaram? Ele nega ter feito ou dito algo que você o viu fazendo ou dizendo? Ele faz o mesmo com outras pessoas?

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Gaslighting: o que fazer e como lidar?

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“Nas relações de trabalho ou em relacionamentos amorosos existe sempre um medo: perder. Perder o outro ou perder o emprego. Aqui temos um situação delicada: seria ingênuo conceder uma resposta única sobre como sair disso sem perdas, pois cada situação é absolutamente singular e em certos casos, ao colocar o que você pensa, você pode sim perder algo”, comenta Sawaya.

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No caso de Alice, ela só conseguiu sair da situação de abuso em que estava quando pediu demissão. Porém, em um cenário de desemprego tão forte, essa não é uma opção para muitas mulheres. Existem outros caminhos, como buscar o setor de Recursos Humanos, caso ele seja bem estruturado em sua empresa.

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“Caso não seja, vale compartilhar essa situação com uma pessoa de sua confiança dentro do ambiente de trabalho. Ela nem precisa ser do mesmo setor, basta que seja um colega de postura profissional e justa. Compartilhar sua percepção é uma forma de recuperar a segurança, já que você terá a percepção de uma pessoa que está fora dessa ‘realidade distorcida’ criada pelo agressor”, ensina Lemos.

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Se ainda houver dúvida, vale consultar um profissional, como um psicólogo. Buscar outras percepções e, principalmente, restabelecer o contato consigo mesma, são as maiores dicas porque cada caso de gaslighting esconde uma relação singular.

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“Por isso, não existe um só jeito ou passo a passo de como lidar com isso. A melhor forma de escapar do gaslighting é o autoconhecimento, que permite ao indivíduo reconhecer o que pensa, qual é o seu discurso e como deseja colocá-lo na realidade. Se tiver segurança sobre isto, será mais fácil decidir falar”, finaliza Sawaya.

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*Nome trocado para preservar a fonte

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Fotos: Fotolia

 

 

 

 

 

 

 

 

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