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“Fiz tudo certo e faria tudo de novo”, diz Marta Suplicy

Saiu no site UNIVERSA:

 

Veja publicação original: “Fiz tudo certo e faria tudo de novo”, diz Marta Suplicy

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Por Juliana Linhares

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A senadora Marta Suplicy recebeu a Universa no apartamento do marido – Márcio Toledo, empresário do ramo de investimentos – que, em breve vai ser o dela também. Depois de dez anos de casados, eles vão morar juntos. A sala da casa abriga um piano, uma lareira, cerca de dez sofás, poltronas e cadeiras claras e confortáveis. Numa mesa de centro, há livros, encimado pelo “Meu Companheiro”, escrito por Maria Prestes, mulher de Luiz Carlos Prestes. No escritório, um quadro pintado do busto de Toledo.

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Aos 73 anos, Marta, umas das políticas mais importantes, longevas e agitadas do país, anuncia que está abandonando a vida parlamentar. Porém, “não a pública”; uma vez que ela não crava que, nos próximos anos, não participará de novas eleições e que quer fazer a diferença, lutando por temas como aborto e casamento civil fora do Congresso.

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Desses mais de 30 anos na vida política, ela não se arrepende “de nada”. Vestida com uma malha da mesma cor que seus olhos, – “ajuda, né?” –  sapatilhas de brilho e cílios alongados, Marta mostra nessa entrevista que continua com a mesma verve. “Não vou votar no Haddad porque ele foi um péssimo prefeito”, (votou pelo impeachment de Dilma) “pela incompetência dela”, Lula “era machista e achava que homossexual era doença” e Eduardo Suplicy, seu ex-marido, “incrementa” o falatório das pessoas sobre a separação do casal. Por sugestão de Marta, ela será chamada de você, e não de senhora, nesta entrevista.

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Lucas Lima/UOL
 Marta Suplicy: Lula “era machista e achava que homossexual era doença”Imagem: Lucas Lima/UOL

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Nesses 37 anos de vida política, você foi criticada por ser uma mulher rica no PT, por ser uma mulher temperamental, também por ser uma mulher a quem o PT “deu tudo” e abandonou o partido e por ser uma mulher que vota pelo impeachment de outra mulher. Com os anos de experiência, como vê cada uma dessas críticas?

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Eu fiz tudo certo e faria tudo de novo. Dou até risada dessas coisas; não fazem nenhum sentido pra mim. Fiz a vida do jeito que eu queria fazer. Tomei as decisões mais difíceis na vida política e pessoal. Não é fácil você se separar de um marido de 33 anos na hora que foi eleita e porque se apaixonou por outra pessoa. Nenhum homem faz isso. Fiz e paguei um preço. E não me arrependo.

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Você sai da vida parlamentar alegando que os partidos “estão acuados, sem norte” e que “não conseguem mais dar respostas à crise de credibilidade que se abateu sobre eles”. Fez parte desses partidos há décadas. Por que agora eles a incomodam?

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Porque agora estamos vivendo uma onda conservadora gigantesca. No Senado está muito complicado. Você só pega projetos que visam a benefícios próprios e tem que tentar entender pra quem ali eles servem. Além disso, você tem que aprovar indicação para agências, que sabe que não vai ser a melhor. Sem contar a luta que é barrar o retrocesso civilizatório. O Congresso não vai melhorar.

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Você não foi escolhida pelo MDB para ser a candidata à presidência – algo que repete a foto de quando o PT preferiu o nome de Dilma Rousseff ao seu. O fato contribuiu para sua saída de cena?

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Não. Eu nunca fiz nenhum movimento desse tipo.

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Nunca?

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Não. Teria gostado. Mas aí foi a Dilma; e não eu.

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Lucas Lima/UOL
 “Foi fora da curva Dilma ser candidata. Agora, o poste é o Haddad”Imagem: Lucas Lima/UOL

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Você se ressente disso?

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Eu fiz uma viagem com o Lula, e ele me disse que a sucessora dele ia ser uma mulher. Eu pensei, vai ser a Marina, eu ou a Dilma. A Marina não vai ser porque ela está brigando muito com o governo. Logo depois teve a coisa da “Mãe do PAC”, e eu percebi que a sucessora seria a Dilma. Aí, falei, bom, vou ter que brigar por ela. Porque em São Paulo, as pessoas não queriam ela. Eu chamei os deputados e o vereadores e fechamos São Paulo tranquilinho com a Dilma. Aí, ela teve o câncer. E eu fiz na minha casa um almoço para ela com mulheres da área comunicação. Veio a Mônica Waldvogel e a Ana Maria Braga, por exemplo. A Dilma encantou a todas, ela estava de peruca, e eu dei muita força pra ela.

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Quando se desentenderam?

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Depois que veio desencantamento. Quando eu percebi que ela não estava à altura do cargo.

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Quando votou pelo impeachment da Dilma, em algum momento você a olhou como mulher, ou sempre apenas como política?

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Foi junto. Sempre vi a Dilma como uma mulher na política. Mas nunca achei que tomar uma posição frontal como aquela fosse uma posição contra a mulher. Era contra a incompetência dela. E nunca achei que ela ter ido mal teria uma repercussão muito grande para as mulheres. Foi fora da curva ela ser candidata. Foi uma decisão pessoal do Lula. Como ele mesmo dizia, ela era um poste. Agora, o poste é o Haddad.

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Vai votar no Haddad (PT), no Meirelles (MDB), na Marina (Rede) ou Ciro (PDT)?

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No Haddad, eu não vou votar. Se for para o segundo turno Haddad e Bolsonaro, vou ter que reconsiderar, claro.

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Por que não vota no Haddad?

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Porque ele foi um péssimo prefeito pra São Paulo. E, não acho que seria um bom presidente. É uma pessoa da academia e não do Executivo.

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Lucas Lima/UOL
 “Lula é uma esponja”, diz MartaImagem: Lucas Lima/UOL

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Durante muito tempo você foi uma das mulheres próxima do Lula. Como é a relação de vocês hoje?

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Nunca fui do círculo mais íntimo dele, mas sempre tive uma relação muito boa. Na época do sindicalismo, ele era muito machista. Para ele, homossexual era doença. E nisso, eu tive uma influência enorme nele e, por consequência, no PT. E o Lula é uma esponja. Ele aprende alguma coisa e logo já está dando aula. Eu me aproximei mais dele na época em que percebi que a Dilma ia ser um desastre se reeleita, e que ele é que tinha de ser o candidato. Mas, na hora H, ele se acovardou. Ele falava bastante mal dela, mas não a enfrentou.

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E por que ele se acovardou?

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Eu não vou falar. Mas aí, logo depois, eu saí do partido. Já estavam aparecendo os casos de corrupção e eu não concordava com a Dilma ser presidente.

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Todo mundo que deixa um trabalho, onde ficou por 30 anos, sai dele com muitas emoções presentes, seja saudade, arrependimentos ou alívio, por exemplo. Você está mexida?

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Estou começando a fazer o luto, mas eu não vou deixar de fazer política; só vou fazer de outra forma, e isso é estimulante pra mim. No Congresso, eu já dei minha contribuição. Como deputada e senadora, fiz projetos que pediam o aumento do número de mulheres nos partidos e levantei temas como o do casamento gay e do aborto. Estou saindo, mas ainda deixo lá um projeto que obriga que, sempre que houver duas vagas no Senado, uma tem que ser ocupada por mulher, até atingirmos pelo menos 30% da Casa. Pelos cálculos, vai demorar mais de 100 anos para atingir essa porcentagem.

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Seus colegas de Senado se manifestaram sobre a sua saída?

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Sim. Ontem, o Serra (senador pelo PSDB) falou pra mim: “Marta, mas você vai ganhar a reeleição para o Senado!”. Respondi: “Eu sei, Serra, você acha que eu não sei que eu vou ganhar? Claro que eu vou ganhar”. Mas eu não me pauto por isso. O que me interessa é saber se estou conseguindo fazer as coisas que contribuam e que me façam sentir plena. Posso me arrepender. Mas vai ser o primeiro arrependimento nessa área que vou ter.

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Qual foi o principal erro da sua carreira política?

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Olha, estou pensando… Acho que teve bem mais acerto que erro. Talvez não precisasse ter disputado essa última eleição para prefeita. A situação era muito desfavorável. Tinha o PT, a igreja do Russomano e o Dória, com um partido forte.

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Há quem diga que os eleitores de São Paulo, e mesmo do país, nunca a “perdoaram” por ter se separado de Eduardo Suplicy – e mantido o sobrenome dele – namorado e se casado de novo. Isso é machismo?

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É machismo. So what? Eu casei com 20 anos, fiz a minha vida pública, publiquei nove livros e tudo isso com o sobrenome que adquiri aos 20 anos. Como vou voltar ao nome de solteira se tenho uma carreira política que tem mais anos do que os existentes antes dela? E o Eduardo concordou. E quantas pessoas não se espelharam e disseram: “mulher corajosa”.

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E pagou um preço.

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Paguei. As pessoas falaram por anos disso. E o Eduardo incrementa isso.

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Você é uma das políticas mais importantes, longevas e agitadas na vida brasileira. Acha que é a principal?

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Talvez. E alguns momentos tenha sido. Não sei. Mas, para a mulher, eu não tenho dúvida.

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O que vai fazer depois que sair do Senado?

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Quero fazer algo que envolva comunicação de massa. Pode ser TV ou rádio, por exemplo. O que está pulsando hoje é a sociedade civil. E eu quero estar lá.

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Lucas Lima/UOL
 “Quero fazer algo que envolva comunicação de massa”Imagem: Lucas Lima/UOL

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Qual vai ser o impacto da sua saída da vida parlamentar brasileira?

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Se eu conseguir bons canais para expor ideias fora do engessamento parlamentar, vou impactar de um jeito diferente. Eu posso fazer diferença. Já fiz uma diferença enorme pra vida da mulher brasileira.

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Mulheres maduras, hoje, olham para trás e conseguem nomear que eventos constrangedores que viveram no passado foram, na verdade, assédio sexual e, em muitos casos, violência sexual. Você passou por isso também?

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Não. E isso tem a ver com a TV Mulher. Como eu falava de sexo, o pessoal tinha medo. As pessoas percebiam que eu não era tonta e que era forte para responder à altura. É muito importante dar nome a essas agressões. Aprovamos essa semana no Senado um projeto originalmente meu e do senador Humberto Costa que aumenta a pena para estupro coletivo, cria os crimes de “importunação sexual”, como a masturbação em transporte público, e o de divulgação sem consentimento de cenas de sexo.

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As discussões sobre o aborto estão quentes e, de alguma forma, elas sempre estiveram no seu radar. Você fez aborto?

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Não. Eu tive um aborto espontâneo, que foi triste, numa sala de aula, quando era psicóloga. Nada comparável à pessoa que não quer ter o filho. Enquanto psicanalista, atendi mulheres que fizeram aborto. Na TV Mulher, tive a experiência do aborto com as pessoas mais carentes. No programa, eu recebia ligações de mulheres que falavam: “Marta, eu estou grávida e desesperada. Não vou ter esse filho de nenhum jeito, o que eu faço?”.  Como, na televisão, eu podia falar disso? E respondia: “Procure as pessoas em quem que você confia. Não tome a decisão de impulso. Veja todas as possibilidades”. Era uma angústia. Quando virei prefeita, obedeci a lei federal do aborto legal e escolhi os hospitais que fariam aborto dentro da lei em São Paulo. Porque a lei já existia, mas não havia hospitais que fizessem o procedimento.

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A onda de mulheres vices vai, de fato, aumentar o poder feminino na política?

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Isso é oportunismo grande dos partidos e dos candidatos, uma vez que 82% das mulheres estão indecisas sobre em que votar. É ruim esse oportunismo, mas também vai depender delas, de como vão se portar. Agora, entre as vices, há mulheres da polícia. E isso acontece porque temos uma situação de segurança gigantesca no país. Mas o que eu quero é um plano de segurança pro país. Eu não quero uma mulher de farda. Os políticos não estão nem aí: nem para a segurança e nem para as mulheres.

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Por que não topou ser vice do Meirelles?

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Porque eu tinha decidido fazer outra coisa. E porque ele não correspondia ao que acho que poderia ser um bom governo. É uma pessoa muito preparada, mas nunca o vi falando nada referente ao social. Não vejo essa sensibilidade nele. E isso, pra mim, é o principal.

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Você é uma mulher bonita. E a beleza abre todas as portas. Em algum momento, ela te causou problema?

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Não. Ser uma mulher bonita é bom. Não vou fazer a humilde aqui.

 

 

 

 

 

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