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Feminismo: o que é e como praticar a sororidade

Saiu no site DIÁRIO DOS CAMPOS

 

Veja publicação original:  Feminismo: o que é e como praticar a sororidade

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Por Michelle Pavoni

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A luta feminista tem sido cada vez mais debatida e estudada no mundo todo e também é alvo de diversas críticas, inclusive por parte de mulheres. Para entender o feminismo e seus desdobramentos, convidamos mulheres (que estudam a luta feminista a fundo e a vivenciam diariamente), para falar a respeito do movimento e dar dicas de como praticar a sororidade.

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Maria Andreia Dias é formada nas licenciaturas de história e de artes visuais da UEPG, professora da rede básica de educação e estuda o feminismo há mais de 10 anos. Ela explica, afinal, o que é o movimento, os desdobramentos desta luta ao longo das décadas e como ele se manifesta nos dias de hoje. Acompanhe:

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O que é o feminismo

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O feminismo é um movimento político e social organizado por mulheres para defesa de suas pautas. Essas pautas giram em torno de direitos humanos, direitos sociais, direitos de ir e vir, entre outros. O feminismo hoje tem várias roupagens, mas é o desdobramento de todos os direitos que a mulher sempre lutou para conquistar: direito de voto e representação política, direito ao trabalho e ter o mesmo valor salarial que o homem exercendo a mesma função, direito a decidir sobre seu próprio corpo (exemplo: ter ou não filhos, usar ou não anticoncepcionais)

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O surgimento

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Historicamente, a luta surge com a primeira onda feminista, quando mulheres europeias (inglesas, mais especificamente) começaram a fazer agitação social por direito de igualdade entre homens e mulheres no trabalho, além de direitos sexuais e reprodutivos. Elas contestaram inúmeras coisas sobre as quais eram deixadas de fora pela sociedade da época e começaram a contestar a questão do voto político e a necessidade de representação política. Nesse momento, conseguiram falar para toda a sociedade à sua volta que elas também tinham o direito do voto e a escolha de seus líderes políticos (sufrágio). Esse impacto fomentou agitação social por toda Europa e inúmeros outros países seguiram essa tradição. No Brasil, o sufrágio universal aconteceu em 1932, com o governo Getúlio Vargas.

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Desdobramentos

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A segunda onda feminista se dá por volta das décadas de 60 e 70, quando os questionamentos do feminismo atingem também a esfera cultural, questionando maternidade, liberdade sexual, contracepção e caracteriza a sociedade como dominante de um sistema machista e patriarcal. Esse debate também é levado para dentro da área acadêmica e discutido em âmbito universitário. Começam a surgir os grupos de estudos feministas, nos quais as mulheres se reuniam em pequenos grupos para discutirem publicações que questionavam seu papel social. É também neste momento que o feminismo começa a ter algumas divisões (como exemplo, o feminismo negro, que reivindicava a luta da mulher negra, sendo diferente das pautas das mulheres brancas). No Brasil, a segunda onda também tem seus impactos e os mesmos questionamentos. A terceira onda, por volta da década de 90, se dá também em resposta à segunda onda, e se propõe corrigir os erros desta, com a proposta de insterseccionalidade (não deixando de fora nenhuma mulher, branca ou negra) e avançando em suas pautas com mais pressão, já que a onda anterior não foi garantia de direitos conquistados em sua amplitude, apenas em alguns pontos (divórcio, contracepção, acesso ao mercado de trabalho, maior liberdade sexual) e em outros pontos ainda permaneciam intactos (aborto, equiparação salarial). Porém, as divisões ainda permaneciam (movimento negro e lésbico) e ganharam mais força também as vertentes feministas (feministas liberais, feministas negras, feministas classistas, feministas radicais, etc), cada uma com especificidade de pautas, mas, que de certa forma, sempre convergem em ‘direitos da mulher’.

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A quarta onda ainda é um enigma para muitos analistas e pensadores das questões de gênero. No Brasil, estima-se o início com as jornadas de junho de 2013. Outros países dizem ter iniciado com as ondas de manifestações no Oriente Médio e norte da África, que ficou conhecido como Primavera Árabe. O que tem de semelhante nesse movimento recente é o uso das redes sociais como meio de denúncias políticas e incitação a revoltas populares e greves. No Brasil é fácil relacionar isso, pois pudemos perceber que, nos últimos anos, as redes sociais tomaram proporções gigantescas e também têm sido usadas da mesma forma e para os mesmos fins, facilitando assim também a mulher e as feministas um canal de denúncias sobre sua condição diária, social e estrutural na sociedade.

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O movimento feminista hoje

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Nos dias atuais, o movimento tem alcançado uma proporção muito grande, principalmente pela facilidade dos meios de comunicação, favorecidos pela internet, com as redes sociais, blogs, canais de vídeos, onde mulheres do mundo todo podem se comunicar e se organizar em torno de uma ou várias pautas. Há pouco tempo houve um movimento no Brasil de apoio às mulheres argentinas, que lutavam em favor do aborto (o congresso argentino ia votar a legalização ou não do aborto), o 8M (oito de março – Dia Internacional da Mulher) de 2019 foi um chamado à greve geral no mundo inteiro. Houve inúmeras conferências internacionais de chamamento para esse dia com participação de líderes feministas de vários países e o 8M foi global.

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Porque existem mulheres contra o feminismo

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O que faz com que até mesmo mulheres fiquem contra o movimento feminista? Acredito que por elas entenderem que as coisas se dão por ação e reação: a reação ao conservadorismo que explodiu no século XIX, a reação a uma onda de mulheres no mundo inteiro contestando a sociedade culturalmente machista, políticos e suas políticas públicas excludentes às mulheres seria o próprio movimento conservador. Dessa forma, as coisas se dão por uma guerra na disputa de narrativas, onde a emancipação feminista diz que a mulher deve ter seus direitos conquistados da mesma forma que os homens sempre o tiveram, toda uma sociedade que sempre achou que como estava antes era que deveria permanecer. Nisso, criou-se uma demonização da mulher feminista, com a argumentação de que ela é suja, mal cuidada, desbocada, peluda, que lhe falta um homem de verdade, etc… Usam os inúmeros subterfúgios para dizer que ter o direito de ir e vir não é um direito e sim uma gritaria sem embasamento. Mas por trás disso está o movimento religioso fundamentalista, a mídia conservadora, a indústria da beleza, que sempre lucraram e se estabeleceram com o aprisionamento da mulher, com o fato de que a mulher contida é melhor. As manifestações políticas dos últimos anos nos mostram que só tiveram força porque havia uma grande quantidade de mulheres ‘engrossando o caldo’. Isso quer dizer que muitos poderes estabelecidos podem cair a qualquer momento com uma grande onda popular. Assim, o movimento conservador cria um discurso desqualificando as mulheres feministas e tentando mostrar que a beleza da mulher está em ser submissa, em não contestar, em ser temente a religião, etc.

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CINCO PASSOS PARA A PRÁTICA DA SORORIDADE

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A respeito da sororidade, Mayã Polo de Campos e Laís Schnepper Lacerda afirmam que o conceito está cada vez mais comum de ser ouvido nos espaços compostos por mulheres e destacam a definição da palavra a partir da autora Lagarde y de los Ríos, a qual propõe que sororidade é “uma experiência subjetiva entre mulheres na busca por relações positivas e saudáveis, na construção de alianças existenciais e políticas com outras mulheres para contribuir com a eliminação social de todas as formas de opressão, constituindo o empoderamento vital de cada mulher”.

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“Ou seja, a sororidade é uma prática consciente de empoderamento de mulheres”, destacam. “Sem a prática, a sororidade é só mais um termo vazio de significado. Pensando nisso, sem a prepotência de construir um manual geral, mas, partindo das nossas experiências, propomos cinco estratégias dessa prática transformadora”:

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1 – Conheça mulheres de todas as idades

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A prática de conhecer outras mulheres é extremamente rica e cheia de conhecimento. Muitas vezes convivemos com as mulheres da nossa família, mas, conhecer mulheres fora do núcleo familiar faz com que seja possível conhecer tantos outros universos que podem nos auxiliar e fortalecer, além de ser uma oportunidade para desenvolver relações positivas de aliança e ir contra a competição feminina.

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2 – Compre de mulheres

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Conhecendo outras mulheres, temos a oportunidade de conhecer também o trabalho de cada uma delas e desta maneira, consumir ou divulgar produtos/serviços que fujam da lógica do mercado – em que muitas vezes pagamos por produtos/serviços que exploram pessoas e animais – de origem confiável e de qualidade, porque caso não seja bom, podemos retornar diretamente a quem produziu e sugerir alterações para que melhore. Do outro lado, a mulher que está produzindo está sendo fortalecida financeiramente e emocionalmente por ser reconhecida em seu trabalho. No caso do trabalho artesanal, muitas artesãs também são mães e realizam um trabalho que possa ser produzido em casa, por conta da amamentação e o próprio cuidado com as crianças. Nesse caso, além de todas as vantagens já apontadas, você estará colaborando com a organização e gestão de uma família todinha.

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3 – Mães, escutem e falem com outras mães

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Falar sobre as dificuldades da maternidade talvez seja o maior desafio de todas mães. O sentimento de estar sendo injusta acaba aparecendo antes de que se consiga verbalizar sobre os percalços desse caminho. Escutar sobre todas essas dificuldades talvez seja a maior prática de sororidade entre mães, uma vez que, entre as mulheres, são elas que conhecem essa jornada muito bem. Desta maneira, perceba qual é o seu momento e fale ou escute sobre o nascimento dos filhos, amamentação – se gostou ou não – das coisas que sente falta, das coisas que mudaram, o que está difícil de aceitar. Muita coisa mudou, divida com quem saberá te acolher. Acolha quem você sabe que precisa.

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4 – Ofereça ajuda

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Esse ponto deve ser tratado com muita seriedade. Oferecer ajuda precisa ser realizado dentro das limitações suas e da outra mulher. Escutar, auxiliar em uma necessidade pontual, oferecer cuidado com as crianças para uma amiga realizar alguma atividade, dar uma força no trabalho doméstico, são ajudas que não exigem muito de nós. Agora, se você perceber que a outra mulher está passando por situação de violência de qualquer natureza, ou se está enfrentando problemas do campo da saúde mental, a maior ajuda que você pode oferecer é buscar e, se for da vontade dela, acompanha-la até profissionais da área específica. Em Ponta Grossa existe o Núcleo Maria da Penha (Numape), que é um projeto de extensão da UEPG. O núcleo é composto por profissionais qualificadas para atender demandas de mulheres que enfrentaram situações de violência doméstica. No caso de saúde mental, é possível conseguir acompanhamento pelo SUS no ambulatório de saúde mental. Em caso de transtorno mental moderado ou severo, procurar o CAPS II para uma avaliação. A terceira opção é a clínica da Faculdade Sant’ana, que oferece tratamento com valores acessíveis à comunidade.

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5 – Empoderamento na escala micro e macro

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Os pontos anteriores estão diretamente relacionados a microescala, ou seja, no nosso dia a dia e nos espaços em que nós estamos presentes. Outra maneira de praticar sororidade é conhecendo a produção artística ou intelectual de outras mulheres, da sua cidade e do mundo e divulgando-as. Fazendo isso, além de você conhecer produções de diferentes vertentes, lugares, olhares, você estará fomentando a difusão da produção das obras femininas que muitas vezes são invisibilizadas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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