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Feminismo negro em Portugal: falta contar-nos

Saiu no site PÚBLICO – PORTUGAL

 

Veja publicação original:    Feminismo negro em Portugal: falta contar-nos

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A actual geração de activistas, que já nasceu em Portugal ou cá cresceu, coloca novas questões na agenda do movimento negro feminino em Portugal. Recuamos no tempo… recuamos séculos… falta contar esta história.

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Por Cristina Roldão

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O lento, recente e muito sectorial despertar do Portugal branco para o feminismo negro dá-se na sequência de uma longa e forte mobilização das mulheres negras, quer a nível nacional (sobretudo, Lisboa, Porto e Coimbra), como internacionalmente (veja-se o movimento Black Lives Matter, as origens do movimento MeeToo, Geledés — Instituto da Mulher Negra, etc.).

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PÚBLICO -

Foto
Virginia Quaresma (1882-1973), mulher negra e lésbica, primeira jornalista portuguesa e importante activista do movimento feminista português

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Sabendo que qualquer levantamento visibiliza ao mesmo tempo que invisibiliza é preciso sinalizar que, na última década, mas sobretudo nos últimos cinco anos, assistiu-se à emergência de vários colectivos de feministas negras, como a Queering Style (2015) e o Coletivo Zanele Muholi de Lésbicas e Bissexuais Negras (2016), que colocam na agenda do feminismo negro as questões LGBT; a FEMAFRO — Associação de Mulheres Negras, Africanas e Afrodescendentes (2016) e a INMUNE — Instituto da Mulher Negra (2018), duas associações que romperam o silêncio mediático sobre a mulher negra, e conquistaram espaço no centro da “cidade”; mas também grupos com maior informalidade, caso das Crespas e Cacheadas (2013), We Love Carapinha (2015), Nêga Filmes (2015), Roda das Pretas (2016) e o Chá das Pretas (2017) e de todo um conjunto de associações lideradas por mulheres negras, como é o caso da Afrolis — Associação Cultural (2014), DJASS — Associação de Afrodescendentes (2016), o GTOLX — Grupo de Teatro do Oprimido de Lisboa (2002), o grupo de teatro Peles Negras Máscaras Negras com a peça “Maria 28” (2016).

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Uma das referências mais antigas da nova geração do feminismo negro português é o fanzine Cadernos de Consciência e Resistência Negra, que chegou aos 10 números (2007 e 2011), organizado por Eduina Vaz e Sónia Vaz Borges, mas que contou com o contributo de várias mulheres negras. O feminismo negro é várias vezes objecto de discussão, sobretudo no quinto número intitulado Mulheres Negras Falam (2008) e no texto Do Blues ao Soul Music. Resistência Negra Feminina através da Música que integra o sexto número do fanzine.

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Sónia Vaz Borges, autora de Na Po Di Spéra — Percursos nos Bairros da Estrada Militar, de Santa Filomena e da Encosta Nascente (2014), sai do país em 2012, estando actualmente como pós-doc na City University of New York, no Center for Place, Culture and Politics a investigar as lutas de libertação africanas. Não existe muito espaço em Portugal para uma mulher negra trabalhar academicamente e de forma crítica as questões coloniais. Essa terá sido a razão de saída de outra importante artista e académica negra portuguesa: Grada Kilomba. A autora de Plantation Memories: Episodes of Everyday Racism (2008), formada em Psicologia, chegou a realizar, em Portugal, projectos de terapia através da arte seguindo uma abordagem fanoniana. No entanto, em 2004, acabou por se estabelecer na Alemanha e hoje o seu trabalho é internacionalmente reconhecido no campo do racismo e colonialidade .

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Essa geração de activistas e intelectuais negras já nasceu em Portugal, ou cá cresceu boa parte da sua vida, e coloca questões relativas às raízes e resistência culturais, à memória da resistência negra e das mulheres negras, questões que são uma continuidade das levantadas pela geração que as antecedeu. Mas colocam novas questões na agenda do movimento negro feminino: a identidade e o seu lugar no corpo da nação portuguesa; o corpo, a estética e as representações como locus de dominação e resistência da mulher negra; a identidade de género e orientação sexual; a falta de representatividade e bloqueio da mobilidade social; a segregação territorial, o racismo e violência das instituições do Estado.

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Muitas das mulheres negras têm dado um contributo significativo em variados campos da sociedade portuguesa, seja no espaço académico (como Inocência Mata, Iolanda Évora, Joacine Katar Moreira e Sheila Khan), jornalístico (Carla Adão e Conceição Queiroz), político (Helena Lopes da Silva, que faleceu recentemente, Celeste Correia, Floresbela Pinto, Francisca Van Dunem ou Romualda Fernandes), desportivo (Naide GomesPatrícia Mamona, entre outras), ou na moda (caso de Naara Saturnino da Silva, Romana Mussagy e Rosalyn Silva). No campo das artes, surgem programadoras culturais (como Paula Nascimento), escritoras e poetisas negras (como Bernardete Pinheiro, Djamilia Pereira de Almeida, Gisela Casimiro, Luzia Gomes Ferreira, Raquel Lima, Telma Van Escórcio, Yara Monteiro), realizadoras como Lolo Arziki e Pocas Pascoal, actrizes, como Ana Sofia Martins, Claúdia Semedo, Isabel Zuaa, Patrícia Bull, Zia Soares, e na música (como Blaya, LuraNancy Vieira, Romi Anauel, Sara Tavares, Selma Uamusse, mas também no hip-hop, caso de Mynda Guevara e dos projectos Hip Hop de Baton, Djamal e Divine).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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