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Feminismo não é um plano de vingança e sim de libertação

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE:

 

Veja publicação original: Feminismo não é um plano de vingança e sim de libertação

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Por Bárbara Thomaz

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Em sua nova coluna nesta semana, Barbara Thomaz fala sobre o medo que os homens têm do movimento e a raiva das mulheres ao ódio dirigido a elas

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De um lado, homens que estão cumprindo a norma à que foram destinados, do outro mulheres que desafiam as regras.

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O feminismo adicionou uma boa dose de complexidade no malabarismo flamejante dos amores heteros. Convenhamos que não está fácil e quem inventar paciência para vender vai ser o novo proprietário do mundo.

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Após muitos conflitos internos, tratei de aceitar que a gente não manda no coração e amar homens é uma dura realidade. O problema é que também não consigo – nem pretendo – desabilitar a função “feminismo” no meu sistema para me relacionar com a espécie.

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Na prática o feminismo busca equidade, problematiza estimados costumes opressores e violentos, visa romper com a hierarquia de gêneros no poder, bem como aproximar e fortalecer mulheres, criando redes de diálogo e empatia. Odiar homens não é o tema central do movimento, por mais que insistam. Somos diversas em bandeiras e expressões, mas a horizontalidade e a diversidade de que trata o feminismo é toda baseada em amor.

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Um amor que nasceu da raiva e essa raiva causa medo.

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Somos o tão famigerado dedinho na ferida. Seja na cordialidade ou na voadora – tem hora para tudo -, somos incômodas pois servimos de espelho, refletindo desconfortáveis fragilidades que evitamos dentro de nós mesmos.

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É bastante revelador notar que as pessoas ainda se indignam mais com as feministas do que com as injustiças e desumanidades que sofrem as mulheres.

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Porque ridicularizam feministas e ignoram os que estão dispostos a calar mulheres usando de inúmeros tipos de violência? O que estamos tentando esconder com esse mecanismo de defesa? Porque essa ideia radical de que mulheres são seres humanos soa tão ameaçadora?

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Existe uma grande dificuldade em entender que a maioria das mulheres não cresceu sabendo o que era feminismo, no entanto, a noção de que o mundo não está a nosso favor, na condição de mulher, nos acompanha desde sempre. Essa raiva que sentimos é uma reação ao ódio que dirigem a nossa existência. Uma resposta viva a esse gosto persistente e violento de nos dizerem como devemos existir.

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Essa raiva – sempre é bom lembrar – não mata, não estupra, não subjuga e não aprisiona os homens. Ela tem outra origem e jamais poderia ser equiparada. Demorou muito tempo até que pudéssemos usar de nomenclaturas para essas dores e não mais sentíssemos vergonha nem medo dela. Nossa raiva é uma energia proativa, uma força de propulsão para mudanças e não de aniquilação como faz o machismo. Não é um plano de vingança e sim de libertação.

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O temor gerado diante de uma mulher que descobriu sua voz, tem autoridade sobre a própria vida e seu prazer é notável. Uma mulher firme, assertiva ou questionadora é vista como um ser agressivo e deturpado, gerando um bug no sistema de quem espera docilidade, delicadeza, puritanismo, redenção ou uma donzela à ser salva para chamar de sua.

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O medo é a reação humana a tudo que sai do script e nós saímos bastante.

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Contrariando as estruturas sociais afrontamos diretamente os conceitos de masculino e feminino, aos quais muitos se sentem obrigados a performar. Abalos sísmicos! Graças a nossa socialização homens não podem sentir medo e mulheres não podem sentir raiva, mas eles estão com medo e nós estamos com raiva e temos muitos motivos. O que fazer?

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Sou do tipo que acredita nas construções que podemos extrair nesse exercício de contrastes. Me agarro no otimismo, compreendo que séculos de patriarcado não se dissolvem num passe de mágica mas respeito meus limites. Lidar com essa nova complexidade – quando vale a pena – requer adaptações e personalidades mais seguras, empáticas, maduras, conscientes e menos controladoras. Não é para todos.

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Já sobre as coisas inegociáveis: o feminismo fatalmente é um deles. Amar não é sobre ser conivente ou sufocar sentimentos e valores em nome do outro mas em lapidar esse diálogo para algo realmente transformador e construtivo para ambas as partes.

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“Meu medo da raiva não me ensinou nada. O seu medo dessa raiva também não vai te ensinar nada” – Audre Lorde.

 

 

 

 

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