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Ana Mattioni, do #MadWomen, fala dos tombos profissionais de sua vida de publicitária ativista

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE

 

Veja publicação original: Ana Mattioni, do #MadWomen, fala dos tombos profissionais de sua vida de publicitária ativista

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Depois de causar no mundo da publicidade com a criação do grupo #MadWomen (beijo, Don Draper!), Ana Mattioni, que segue à frente do movimento, dispara: “Nem tudo é questão de gênero. Às vezes, é mérito mesmo”. Com Mônica Salgado, ela divide as dores e as delícias de cada episódio em que sua vida profissional desandou

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Por Mônica Salgado

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“Ana, cuidado”, “Ana, você pensou bem? e “Ana, tá doida?”. Ana, no caso, é a publicitária também formada em cinema Ana Mattioni, 29 anos, diretora de criação da agência Mutato (que atende, entre outras contas, a do Itaú). O que fez família e amigos questionarem sua sanidade foi a criação, em 2016, do movimento #MadWomen, resposta feminina e feminista a uma área dominada por homens: a da publicidade. A inspiração para o nome espirituoso? A série Mad Men, que retratava os gênios da criação publicitária nas décadas de 50 e 60, em NY (“mad” fazia alusão, ao mesmo tempo, a “loucos” e a Madison Avenue, onde estavam as grandes agências).

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Voltando. A ideia era unir mulheres publicitárias em torno de bandeiras relevantes – equidade salarial, igualdade de oportunidades, mais lideranças femininas – de modo a encontrar soluções práticas e implementá-las junto a clientes e agências. Mas vem cá: isso faria dela o quê? Encrenqueira? Ativista? Corajosa? Louca? Profissional mais respeitada ou persona non grata? “Bem, isso tudo junto. Ouvi adjetivos diversos (risos!). O grupo foi atingindo seu objetivo, e eu me envolvendo cada vez mais. Até que desandou”, ela conta.

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“Quando percebi que o foco estava num discurso de inferiorização, que era retroalimentado dentro do movimento, fiquei frustradíssima. Nem tudo de ruim acontece porque somos mulheres. Vitimizar-se enfraquece a fala. E eu quero ação!” Questionando-se sobre o futuro desta e de tantas outras questões da vida (“nunca acho que sou suficiente” e “será que devo mesmo me dedicar este tanto ao trabalho? Ou tirar férias e cuidar dos meus filhos –  uma menina de 3 anos e um garotinho de 6 meses?”), Ana me recebe em casa, de caftã modernoso, cabelo num coque, zero make. Conversamos entre beijos na bocheca e cafungadas no cangote do pequeno Nino, pão de queijo e café coado.

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Ela é forte, vulnerável, decidida, insegura, ama a profissão, odeia a profissão, quer crescer no trabalho e quer desistir de tudo. Mas o que torna a Ana única são estes tombos que você lê a seguir, ó….

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“Me decepcionei muito com os rumos do movimento #MADWOMEN, que criei em 2016 em busca de igualdade de oportunidades para as mulheres na publicidade. Mas nem tudo de ruim que acontece na profissão é questão de gênero. E se colocar num lugar de constante inferiorização enfraquece a fala

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Gente, a verdade é uma só: nem tudo é uma questão de gênero, nem tudo tem que ser ativismo. Se alguém deixa de responder um e-mail de trabalho, se você é demitida, se não passa num processo de seleção… isso não necessariamente acontece pelo fato de você ser mulher. Existe uma coisa que se chama mérito. Às vezes é uma questão de sentar e fazer. Todos temos defeitos e qualidades, superiores hierárquicos… E se colocar constantemente neste lugar inferior enfraquece a fala.

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O mundo publicitário, especialmente o criativo, é bem masculino. Então o grupo tem um grande papel no mercado. O objetivo é pensar em soluções para chegarmos a equidade salarial, igualdade de oportunidades, mais mulheres na liderança, etc… Várias iniciativas adotadas por agências saíram daí. Elas se sentiram pressionadas também pelos clientes, criaram cotas… Cinquenta mulheres conseguiram empregos graças a indicações feitas no grupo. Terminamos formando uma rede de trabalho também.

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Mas… hoje estamos com 5.000 mulheres no grupo e sinto que prestamos mais um desserviço que um serviço. Tem que discutir e acolher, porém não dá para uma ficar alimentando discurso de vitimização irreal na outra. Fiquei um tempo afastada do #MadWomen e voltei agora. Vamos ver… Não sou ativista de Facebook. Quero melhorar o mercado de fato. Acredito em várias causas, mas meu trabalho não pode ser secundário.

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Levei uma puxada de tapete da minha “sócia” num projeto e postei tudo no Facebook
“Nossa, que barraqueira!” e “Nossa, que corajosa!”. Não tinha meio-termo. Meu post repercutiu muito no mundo publicitário. Minha parceira na criação do #MadWomen me passou a perna quando estava grávida do meu segundo filho. Era uma gestação de risco e tive que me afastar. Na época eu me dedicava muito ao grupo. Ela criou uma escola digital usando nosso mailing, começou a cobrar para dar aulas. Fui excluída de tudo. Fiquei muito fragilizada, foi um baque. Resolvi fazer um post no grupo e outro no meu Face. Narrei os fatos dando nome e tudo. Tinha que expor quem era, todo mundo se conhece neste meio. Acho mais digno deixar tudo às claras que ligar para contar para cada um dos meus contatos. Recebi bastante apoio. Mas esse episódio tomou muito de mim emocionalmente. Não sei se faria de novo, não. Vamos criando uma casca na vida, aprendendo a não esperar muito de ninguém.

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Ana Mattioni e Mônica Salgado (Foto: Arquivo pessoal)

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Fui demitida com o “atenuante”: “Sei que seu marido ganha bem”

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Demissão é sempre algo dolorido. Às vezes você nem está feliz naquele trabalho. Mas é como um namoro que não está legal e o cara termina. Nesta inesquecível vez, ouvi: “Sinto muito, não consigo pagar seu salário, mas tudo bem: sei que seu marido ganha bem”. Oi? O negócio é que é só trabalho. Na empresa vão te enxergar como trabalho. E você tem que enxergá-los assim também. Já me achei superamiga de chefes e colegas… mas é mais saudável se a relação for profissional e ponto.

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Mandei e-mail detonando um trabalho com minha chefe em cópia. Descobri que ela é quem tinha feito

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Sabe aqueles documentos compartilhados em que todos fazem comentários? Eu fiz os meus, respondi a todos. Voltou para mim todo modificado e sem nenhuma das alterações que havia pedido. Respondi: “Gente, o que fizeram? Ficou péssimo!”. E descobri que minha chefe é quem tinha direcionado naquele sentido. Apaguei o e-mail na hora. Não sei até hoje se ela leu. Se leu, foi bem elegante em não me confrontar… dupliquei minha atenção desde o episódio.

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Ninguém vai verbalizar, mas gravidez e filho pequeno ainda são questões no ambiente de trabalho

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Tenho dois filhos: a Catarina, de 3 anos, e o Nino, de 6 meses. Vi muitas mães chefes coibindo funcionárias mães por aí. Homens também, claro. Certa vez, eu grávida de nove meses, andava trabalhando feriados e fins de semana direto. Meu então chefe me convocou para trabalhar mais um fim de semana. Aleguei que estava cansada. E ele rindo: “Você vai trabalhar sentada”.

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Meu sonho de fazer faculdade fora do Brasil foi um pesadelo

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Decidi fazer cinema em Buenos Aires. A indústria do cinema é bem bacana por lá. Fui com 18 anos. Durante o primeiro ano, as coisas rolaram. O curso era legal, minha casa também. Trabalhei em restaurante, em hotéis. Não me enturmei muito, então saía bastante sozinha. Ia ao cinema, a restaurantes… Depois, a solidão se tornou insuportável. Tinha uma febre que não curava, ia sozinha ao hospital. Fiquei bem deprimida. Dormia a tarde toda, só comia miojo. Nunca me senti acolhida no país, achei tudo meio hostil. Para mim, os argentinos são muito mais machistas que os brasileiros. Foi sofrido, mas terminei a faculdade. Meus pais me pediam para voltar diariamente – sou filha única. Só que eu jamais me perdoaria se tivesse voltado antes. Não me permito desistir de nada na vida. Sim, estou tratando isso na terapia (risos!).”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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