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ÁLCOOL: O gatilho da violência doméstica

Saiu no site RONDÔNIA AO VIVO

 

Veja publicação original: ÁLCOOL: O gatilho da violência doméstica

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“Se não fosse o Ministério Público e a Delegacia da Mulher eu já estava morta”, disse dona Edineuza Q. A., de 61 anos

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Por Julie Vargas

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Em decorrência ao número alarmante de ocorrências relacionadas à violência contra a mulher o Rondoniaovivo decidiu relembrar uma matéria da jornalista Iule Vargas, inscrita no Prêmio MPRO de Jornalismo 2018, sobre violência doméstica e um dos seus gatilhos: o álcool.

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Confira:

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Bora tomar uma”?

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Essa é uma frase diária dos brasileiros, um hábito comum de milhões de pessoas que através da bebida alcoólica, reúnem-se para conversar sobre os mais diversos assuntos: política, religião, economia, vida amorosa entre outros.

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Ocorre que por trás de algo que parece tão comum esconde-se o vício e uma possível dependência química.

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Entre os estragos que essa droga pode causar está inserida também a violência familiar. A destruição que o álcool vem ocasionado em milhares de famílias se tornou um fator alarmante para os órgãos envolvidos nas questões sociais de violência doméstica, em especial nas situações de abuso das vítimas.

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As vítimas sempre estão marcadas fisicamente e emocionalmente, “se não fosse o Ministério Público e a Delegacia da Mulher eu já estava morta … eu apanhava da minha nora … Imagina eu, velha desse jeito, sendo humilhada… só a justiça para me defender mesmo…do contrário, não sei nem o que seria de mim”, disse dona Edineuza Q. A., de 61 anos.

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Dona Edineuza – Foto: Iule Vargas

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MINISTÉRIO PÚBLICO

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Foram registrados de 1º de janeiro a 15 de outubro de 2018, 10.743 inquéritos policiais em tramitação em todo o estado de Rondônia. Os dados, são da 14º Promotoria de Justiça de Porto Velho, 1º e 2º Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher.

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Quando você fala em violência contra a mulher você tem dois eixos de atuação. O da proteção da vítima e garantia dos seus direitos, tanto na ordem civil quanto administrativa e o eixo criminal, que é o eixo de responsabilização do ofensor. O MP também é o responsável pela fiscalização e aperfeiçoamento de todo o sistema tanto de proteção como de responsabilização do ofensor”, explica a promotora do MPE-RO, Tânia Garcia Santiago.

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Promotora Tânia Garcia Santiago – Foto MPE-RO

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Quanto às medidas protetivas, ainda de acordo com o MPE-RO, 1.509 foram concedidas, apenas em Porto Velho, no período de 1º janeiro a 30 de setembro de 2018.  “O álcool é um potencializador da violência doméstica. A indústria do álcool é muito forte no Brasil, as pessoas refletem muito pouco a respeito dos danos decorrentes desse uso abusivo”, diz a promotora.

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Vídeo – Promotora de Justiça de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, Tânia Garcia Santiago, fala sobre a Rede de Proteção à Mulher vítima de violência

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Ana P. S., 30 anos, é uma dessas mulheres que tinha um casamento “perfeito”, até a entrada do álcool em sua casa e no seu relacionamento.  “Um belo dia cheguei em casa e vi ele bebendo. No começo achei normal, depois a situação foi se agravando e fui deixando passar. Nunca pensei que um dia, eu tivesse que ter limite de espaço pra me proteger daquele mostro. Mas se não fosse assim, eu já estava morta ou aleijada de tanto que apanhei”, finaliza a jovem.

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Nesse momento, Ana levanta da cadeira e pede para ir ao banheiro, com sua maquiagem borrada pelas lágrimas. Ela não autoriza nenhuma foto, mas o levantamento do MPE-RO representa suas palavras.

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DELEGACIA DA MULHER

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De acordo com a Delegacia da Mulher em Porto Velho, a cada 10 ocorrências envolvendo a violência doméstica, oito incluem o álcool como fator motivacional da agressão. “Grande parte dos atendimentos que a gente faz, tem o álcool como mola propulsora da violência. Então às vezes, o cara chega em casa, tá embriagado e o estopim fica bem mais curto”, afirma a delegada, Frabrizia Elias Soares Alvez.

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Em todo o Brasil, não existe uma fiscalização ativa no que envolve a abertura de bares, e o controle da venda de bebidas alcoólicas. Todo lugar com alvará seja um posto de gasolina, conveniência, padaria, etc… pode efetuar a venda, isto sem citar o comércio informal e a venda para menores de idade.

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O tradicional futebol das quartas-feiras e as baladas do final de semana também são pontos a serem analisados. “Tudo que favorece o consumo do álcool, favorece essa violência. São os momentos de lazer e o excesso desse consumo acaba provocando os abusos e agressões”, disse ainda a delegada.

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Foto simulação: Iule Vargas 

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Estudo feito pelo psicólogo, Arilton Martins Fonseca, Mestre em Ciências pelo Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), analisou 7.939 domicílios, do qual incluiu 108 cidades brasileiras com mais de 200 mil habitantes, e constatou que 33,5% dos lares, possuem histórico de violência doméstica em decorrência do álcool. Desse total, 17,1% dos agressores estavam alcoolizados. A pesquisa revela ainda outro dado assustador: quase 50% dos casos de violência doméstica, estão ligados ao vício do álcool pelo agressor.

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Medo e vergonha impedem as vítimas de denunciarem, ainda de acordo com o estudo somente 8,3% das vítimas buscam serviços de segurança e 3,7% serviços de saúde.

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Gráfico Rondoniaovivo

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Patrícia M. M. de 35 anos, é uma dessas vítimas. Sentada ao lado do pai, ambos abaixam a cabeça com a chegada da reportagem na delegacia em Porto Velho. Envergonhados, aos poucos vão interagindo com a equipe Rondoniaovivo sobre o que ocorreu. “É muito difícil, sabe? Nunca me imaginei estar nessa situação, ele bêbado me bateu e me expulsou de casa, minha filha viu tudo . Agora estou na casa do meu pai,  nem minhas roupas ele está deixando eu buscar”, disse a jovem com lágrimas escorrendo pelo rosto.

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O pai de Patrícia é o senhor Francisco R.M, de 65 anos, ao ouvir o depoimento da filha, tenta passar força e segurança. “Eu nunca bati nessa menina, daí vem um infeliz desse e faz isso aí com a minha filha. Tanto que eu falei que ele não prestava. Tanto que eu falei que ele era um bêbado, não sei o que eu faço se esse cara aparecer na minha frente”, lamenta o pai.

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Patrícia e Francisco (filha e pai), na Delegacia da Mulher em Porto Velho. Foto: Iule Vargas

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POLÍTICAS PÚBLICAS

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No que diz respeito às políticas públicas, pouco se pode citar. As propagandas de bebidas alcoólicas são liberadas no Brasil, inclusive nos chamados canais abertos. Muitas delas, estampadas em camisetas de grandes times de futebol, ou solicitando o consumo por renomados artistas.

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“Culturalmente a gente tem muito forte o consumo de álcool como uma identidade masculina. Os homens começam a beber muito cedo, e é onde esses prejuízos vão começar a acontecer”, é o que diz Cristiano de Paula, psicólogo do projeto Semeadura.

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Esse projeto é uma prática exercida pelo Tribunal de Justiça de Rondônia, sendo uma das ações desenvolvidas no Estado, onde são abordadas questões de violência doméstica e familiar contra mulher, e onde a causa é o álcool e outras drogas.

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Vídeo – Campanha do Ministério Público do Estado de Rondônia de combate a violência contra a mulher

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Com várias marcas de agressão no corpo, de olhar intenso e triste, nossa equipe também conheceu a senhora Maria J. A. S., 50 anos. “Eu vim aqui ver o negócio da minha medida protetiva, meu ex-marido me bateu, abusou e me humilhou por 20 anos”, afirmou.

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Dona Maria abaixa a cabeça e entra em intenso choro, em seguida, pede um copo com água. Ela foi à delegacia acompanhada pela patroa que a incentivou a denunciar o ex-marido.

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Dona Maria, marcada por cicatriz: No corpo, na vida e na alma. Foto: Iule Vargas

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Aguentei isso tudo por causa dos meus 5 filhos. Hoje o caçula, que está com 24 anos, diz pro pai que se ele encostar um dedo em mim, ele morre. Eu não tenho mais medo, mas quando olho pro passado, sabe… eu não sei te dizer se vivi, eu não sei nem te dizer, se ainda estou viva… É muito difícil você ter a vida e só ter humilhação e coisa triste pra contar”, finaliza dona Maria, repleta de cicatrizes no corpo e na alma.

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Violência doméstica é crime e pode destruir uma vida. Denuncie!

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Ministério Público de Rondônia – (69) 3216-3700
Delegacia da Mulher – (69) – 3216-8831
Polícia Cívil – 197
Polícia Militar – 190

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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