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“Agressor vai na mulher que demonstra fragilidade”, diz especialista

Saiu no site GAZETA DO POVO: 

 

Veja publicação original: “Agressor vai na mulher que demonstra fragilidade”, diz especialista

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A cada dois minutos, cinco mulheres são agredidas violentamente no Brasil, segundo dados de uma pesquisa recente feita pela Fundação Perseu Abramo. No Espírito Santo, 42 casos de feminicídio ocorreram em 2017, sete a mais do que no ano anterior, com 35 ocorrências, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Uma realidade alarmante. Mas você, mulher, sabe como identificar e se proteger de um agressor?

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A campeã mundial de Jiu-jitsu e ex-lutadora de MMA, Erica Paes, que atua como assessora da Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres em um programa nacional de prevenção à violência, participa em Vitória nesta terça-feira (18) de um evento no Centro Integrado de Cidadania de Vitória, e dá dicas de como se proteger da violência sexual no ônibus, no carro ou na rua. Em entrevista à CBN Vitória, Erica conta que já foi vítima de violência doméstica e traz dicas de como agir com segurança em situações de violência.

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Você é campeã mundial que luta e vive nesse ambiente, mesmo que esportivo, tem muito dessa diferença entre homem e mulher?

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“Sou ex-atleta, fui campeã do mundo, faixa preta quinto grau em jiu jitsu, sou especialista em defesa pessoal para mulheres e segurança feminina. Tive um programa desenvolvido em que a gente trabalha diretamente com prevenção e enfrentamento a risco iminente de violência contra mulheres. A partir disso recebi o convite da ex-ministra para integrar o Departamento de Enfrentamento à Violência, na Secretaria Nacional de Política para Mulheres da Presidência da República. A gente ensina as mulheres a reconhecer um agressor em potencial, a se antecipar ao agressor ou abusador sexual. E também damos dicas e ensinamos técnicas de como coibir e agir no importunamento sexual no transporte publico, que é uma nova moda que os criminosos estão praticando contra as mulheres. A gente já tem nove casos de importunação sexual em avião no nosso país.

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Taxis, Uber?

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“Também temos vários relatos. Infelizmente hoje, nós no planeta terra somos 193 países, o Brasil é o 5º que mais mata, espanca e estupra mulheres no mundo. A gente vive uma epidemia de violência contra mulher. Nossa maior ferramenta é o 180, uma ferramenta muito eficiente, fácil e gratuita. Ela é interligada com serviço de segurança pública, com Polícia Federal e com Ministério Público. Tem casos lá que foram expedidas medidas protetivas em até duas horas depois da denúncia através do 180. O mais importante é que preserva a identidade de quem faz a denuncia. Se você tem uma amiga, uma irmã, uma mulher vítima de violência e não sabe como ajuda-la, liga para o 180, faz o seu relato e diga que não quer se identificar. Vai bater uma equipe de policias naquele endereço para convidar o suposto agressor e a suposta vítima para prestar esclarecimentos à Justiça. Funciona 24h em todos os dias da semana, até domingo e feriado, e também em mais de 16 países, é muito eficiente e ajuda a salvar vidas. Se você quiser saber sobre os seus direitos de mulher, se tiver alguma dúvida, quer informação, também é orientada ali da melhor forma pelo ligue 180”

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A Erica reafirma o que vários dos trabalhos de prevenção trazem, de que a pessoa não se torna um agressor da noite para o dia. Você não dorme e acorda com um agressor, não é isso?

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“O agressor doméstico, hoje depois da Lei Maria da Penha é criminoso, se mostra desde o início. Engane-se a mulher que pensa que de uma hora para outra ele se tornou um monstro. O criminoso se mostra um criminoso em potencial desde o início. Como tentar perceber se existe um ar agressivo dentro daquele suposto amor? Observa como esse homem que chegou a o seu lado trata a copeira, a atendente numa loja, como trata a médica, a mãe, a avó, as irmãs, um personagem mulher na TV, como se refere as mulheres. Os agressores se mostram desde o início agressores em potencial. O último nível dessa progressividade da violência doméstica é o feminicídio. A gente teve um caso agora de grande repercussão, que foi com a Tatiane, uma advogada lá do Paraná, que era uma mulher muito bem sucedida. O meu trabalho nasceu por experiencia própria, eu fui vítima de violência doméstica. Eu gosto de chamar esses criminosos de doentes mentais, só que essa doença contamina a gente também. Nós ficamos doentes emocionalmente. A gente acaba acreditando que ninguém vai querer a gente, que a gente está velha, ou que somos loucas, malucas. E eles são muito queridos por quem os cercam. O marido da Tatiane era tido como um cara calmo, educado, simpático. Mais importante do que a gente tentar desconstruir a cultura do marido é a gente construir a prática da sororidade. É muito mais certo de dar certo. Pratica a sororidade. O triste do caso da Tatiane é que ver mulheres perguntarem o que ela fez para merecer aquilo ali. Pior que um homem machista é mulher machista. Poderia ter sido qualquer uma de nós. Era uma mulher bonita, bem sucedida, informada, com uma família incrível. Aquela mulher estava doente, não tava dependente financeiramente, estava dependente emocionalmente daquele homem”

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Essa cultura de briga de marido e mulher não bota a colher…

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“Não existe isso. Se coloca no lugar dela. Se um vizinho bate na porta, no momento em que ele vai dar uma resposta, dizer que não está acontecendo nada, são os 10, 15 segundos no máximo que a gente pode salvar a vida.É o tempo que essa mulher tem para poder correr para um banheiro, para um quarto e se trancar. E ele já vai saber que as pessoas em volta ouviram, estão sabendo. A gente tem que começara a colocar a sororidade em prática, que é você ser mulher e se colocar no lugar da outra antes de julgá-la e muitas vezes condená-la. Mais uma vez, pior que um homem machista é mulher machista”

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E dos homens que acompanham isso e ainda acham em algum momento que a falha foi da mulher.

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“Vejo muito isso de mulheres. Os agressores sempre se passam indignados com isso. São sempre bem relacionados. simpáticos, e a gente é louca é histérica, eles nunca se mostram. Quando você vê essas atitudes, infelizmente são de mulheres. A gente precisa colocar em prática a união entre as mulheres. Temos grandes homens ao nosso lado, mas a gente precisa colocar em prática se colocar no lugar da outra antes de qualquer coisa”

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Quando ocorre algo dentro do ônibus, por exemplo, o que a gente faz?

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“É importante lembrar que existem duas formas da mulher agir diante de um risco já iminente dessa forma de violência. Uma é a mulher entrar em histeria, gritar, gesticular, e o homem vai sair correndo dali com certeza. Outra é a mulher travar, paralisar. O que fazer para ajudar aquela mulher? Se você está no ônibus, “ô, motorista tem um senhor se esfregando aqui na senhor”, ou “senhora, você está precisando de alguma coisa? Esse senhor está se esfregando na senhora”. Garanto para você que ele vai gritar, te chamar de doida, maluca e vai sair. Você já ajudou essa mulher. Ninguém gosta de ser abusa e importunada sexualmente”

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A Erika desenvolveu um projeto de como você lidar com situações de nervosismo envolvendo a violência contra mulher. Se você estiver dentro de um ônibus e começar a se sentir importunada por alguém, como agir?

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“A gente teve um caso de grande repercussão em que um rapaz ejaculou em uma moça dentro de um ônibus em São Paulo, foi preso, mas em seguida ele foi solto por que ele não se enquadrava em nenhum crime. No outro dia ele foi preso novamente ejaculando em uma outra mulher também no transporte público. Há mês passou a ser crime, é a lei da importunação sexual que dá até cinco ano de prisão. A lei Maria da Penha foi eleita pela ONU como a terceira lei melhor e mais eficiente do mundo. A gente ainda tem muito o que lutar, mas foi uma grande conquista para nós mulheres. É só respeito e dignidade que a gente precisa e quer. É importante lembrar que existem duas formas da mulher agir diante dessa violência que é a mulher entrar em histeria, gesticular, gritar, que é a minoria, infelizmente. E a outra, que predomina, é a mulher travar, paralisar. Se for com você é importante que você vire de frente para o agressor e as mãos e o antebraço servem como escudo. Nunca meter a mão, tentar dar uma joelhada, isso é muito perigoso. Colocar o braço flexionado e verbalizar: ‘Senhor, você vai continuar se esfregando em mim? Vou pedir para o motorista parar na delegacia’. Nesse momento ele vai começar a se chamar de doida, e sai. Ele sai. É muito importante verbalizar, mas de forma segura”

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E se tiver sozinha, num carro por exemplo?

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“Senta atrás, mas não do lado aposto do motorista. Sente atrás do motorista. Digamos que deu errado, ou que ele demonstrou mesmo com você sentando atrás. Você está só e está com um homem que está praticando um crime. Aja com inteligência. Simula uma ligação e diz motorista ‘você pode parar aqui, eu vou ter que descer”. E depois denuncie, ligue para o 180, vá à delegacia, faz boletim de ocorrência, para mostrar que existe um criminoso em potencial solto”

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O agressor deixa de ser agressor em algum momento?

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“Sim, mas não é a mulher que consegue fazer com que ele deixe de ser agressor. É importante que ele queira mudar, que entre em um programa de ressocialização de agressores. A Maria terminou com ele, mas ele vai namorar de novo e vai agredir também. A gente precisa também achar um solução para os filhos desses agressores. Aquela mãe vai se separar daquele pai, mas aquelas imagens não vão ser apagadas nunca na cabeça daquela criança, e pode refletir no futuro. No futuro essa criança pode ser um novo agressor, ou no caso das meninas novas submissas”

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No caso de uma abordagem no meio da rua? No caminho do ponto de ônibus até em casa tem uma rua mal iluminada, um terreno baldio, tudo pronto para você sera tacada.

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“Eu não tinha que estar aqui dando essas dicas. Que tem que nos dar segurança é o Estado. Mas e quando o Estado falha? O Ministério Público falha? A educação falha? Aquele menino não se transformou num homem, mas em um criminoso covarde. A gente entra quando tudo falha. Nosso primeiro lema número um é a prevenção. Vale lembrar que o feminicídio é a progressividade máxima da violência doméstica. Vamos as dicas de segurança na rua. Existe a postura de como você não passar vulnerabilidade. O agressor sexual só vai na vítima quando ele tem certeza de que ele vai se dar bem. Como não passar vulnerabilidade na postura física? Como eu tenho que estar parada ou andando para que eu consiga passar força, imponência e poder. Não é a roupa, ele vai na mulher que demonstra fragilidade. A postura condiz muito. Como ter essa postura correta de não passar vulnerabilidade? Possibilidade de defesa, é um trabalho contra a violência e não contra os homens. Não andar beirando os muros, esse criminosos estão sempre escondidos, esperando o momento ideal para dar o bote na vítima. Outra dica importante, faz um coque no cabelo para sair na rua. Isso é de suma importância. Ele veio pedir meu celular? Isso é roubo, e a orientação é nunca reagir. Estava sem arma? Eles nunca estão sozinho. E toma cuidado porque o grito nesse caso é perigoso. Bolsa, mochila, não usa nas costas, porque isso é uma maneira fácil dele te pegar e te segurar. Na hora que eles fazem a bordagem eles não estão munidos de arma de fogo nem arma branca. Como é feita essas abordagens? Por intimidação verbal: cala a boca, me abraça e finge que é minha namorada. Eles nunca gritam, não querem serem pegos. E eles estão sempre muito perto de alguma casa abandonada, um terreno baldio, perto do local para onde querem te conduzir para praticar o estupro. Infelizmente as mulheres ficam encolhidas, vão obedecendo as ordens e caminham para o pior. Somente 10% fazem relato, denúncia”

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Abraçou, te ameaçou, e agora?

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“O primeiro contato físico é pelo pulso, e logo em seguida vai para fazer o abraço e diz “me abraça e finge que é minha namorada”. Esse primeiro contato físico ele é realizado em um segundo. Não olhe para o agressor, nunca olhar, nunca passar para ele que você tem como reconhecê-lo. Eles têm pânico de serem identificados. Importante fazer com que ele entenda que você está fazendo tudo que ele quer, ‘Senhor, estou te acompanhando, não se preocupe. Vou fazer tudo o que o senhor quer, só não me mate, não me machuque, mas olha está cheio de câmera de segurança pela rua’. Eles vão pensar um milhão de vezes antes de dar mais dois passos, eles têm pânico de serem identificados. Geralmente o que eles vão fazer depois? ‘Cala boca, não olha para trás, vai embora’. Ele já te largou e você já conseguiu sair dali. Mai uma vez, sai dali e vai numa delegacia. A gente precisa denunciar. Ligue 180, é a maior ferramenta que a gente tem”

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