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A volta por cima das vítimas de violência

Saiu no site DIÁRIO DIGITAL: 

 

Veja publicação original: A volta por cima das vítimas de violência

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Por Valdelice Bonifácio

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Evanir Campos e Bruna Oliveira têm um passado de sofrimento e um presente de autoestima que ajuda outras mulheres

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Evanir Campos, 43 anos. Aos seis foi abusada por uma pessoa próxima à família, mas dentro de casa, ninguém acreditou nela. No caminho da escola, conheceu outros abusadores. O dono do açougue era um deles, o qual pagava a menina com caramelos. No lar, faltavam comida e amor, de forma que a garota passou fazer favores sexuais em troca de alimentos. Aos 11 anos, experimentou cocaína pela primeira vez. Casou-se aos 13, porém a união durou pouco, pois a essa altura ela já era dominada pelo vício. Aos 15, teve uma overdose, mesmo assim, não se afastou das drogas e se prostituía nas ruas. Apanhou de vários clientes e um deles a jogou do carro em movimento após o programa. Também apanhou nos relacionamentos que ousou tentar. Morou com mendigos na praça da cidade. Contraiu HIV.

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Bruna Oliveira dos Santos, 28 anos. Apaixonou-se aos 20 por um padeiro que trabalhava no mesmo supermercado em que ela. Com 30 dias de namoro, foram morar juntos. Meses depois, o companheiro passou a reclamar das roupas da namorada e a diminuí-la por ela não ter uma profissão. Começaram as brigas e as agressões físicas. Após um soco, ela desmaiou no banheiro e acordou com o agressor chorando e pedindo perdão. Porém, ele voltou a agredi-la várias vezes. Após sete anos de sofrimento,  ela se separou e tentava reconstruir a vida, até que na madrugada de 3 de novembro de 2017, o ex-companheiro invadiu a casa. Ela despertou com os socos, chutes e várias pancadas do agressor. Correu desesperada pelas ruas do bairro sem conseguir ajuda, até ser auxiliada por um homem. Levou 20 pontos na cabeça e teve várias fraturas no braço direito.

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Evanir e Bruna não são nomes fictícios. São duas mulheres que vivem em Campo Grande e cuja vida de padecimentos e humilhações foi sintetizada acima. Apesar das cicatrizes do passado, algumas bem visíveis pelo corpo, elas não escondem a identidade e nem o rosto. Além do histórico de agressões e da coragem de se expor, as duas (que nem se conhecem) têm algo mais em comum: o presente de autoestima e satisfação pessoal. Ambas são a prova de que é possível mudar a própria vida para melhor. Evanir e Bruna deram a volta por cima e hoje relatam abertamente suas experiências para ajudar outras mulheres. A primeira encontrou forças na religião e hoje se sente uma nova pessoa. A segunda achou apoio em um órgão público e descobriu que falar sobre o seu passado é libertador.

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“Dos 9 aos 38 anos, eu era um lixo para a sociedade. A justiça não me via, a polícia não me via, a família não me via”, afirma Evanir Campos. A saga da mulher de belo rosto e expressivos olhos verdes começou na infância quando morava com a família na cidade de Corumbá. Ao relatar em casa que tinha sofrido abuso de uma pessoa próxima, passou a ser alvo de desconfiança dentro do lar. “Diziam que eu era assanhada e provocava situações. Eu era apenas uma criança de seis anos”, relembra.

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Evanir tinha outros cinco irmãos. O pai bebia muito e agredia a mãe. A menina vivia em meio a pobreza, violência e falta de afeto. Fora de casa, sempre encontrava quem oferecesse algo. Assim, ela frequentemente trocava favores sexuais por alimentos ou dinheiro. “Eu chegava em casa com coisas e dizia para minha mãe que tinha ajudado o dono do mercado fazendo algum serviço por lá, e ela acreditava.”

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As drogas, a menina conheceu no portão da escola aos 11 anos. “Quando ficava muito drogada eu ia para dentro dos navios em Corumbá, que eu já frequentava desde os 9 anos, lá eu também me prostituía”, revela. A garota frequentou navios vindos da Argentina, do Paraguai e outros países, onde recebia agrados após os abusos. “Eles ofereciam um churrasco e sempre tinha meninas lá. Aos 10 anos, eu já falava bem o espanhol”, relembra.

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Aos 12 anos, já prostituída e viciada conheceu um militar de 25 e um ano depois casou-se com ele. “Ele dizia que me amava, mas eu queria cocaína.” O casamento durou pouco. Com 15 anos, Evanir teve uma overdose. Mesmo tendo chegado a um limite que poderia ter sido fatal, continuou nas drogas e na prostituição. Evanir sofria muito nas ruas. “Tem muita violência, eu apanhei demais. Vários clientes me bateram. Um  me jogou de um carro em movimento para não pagar o programa. Outro cara me bateu e quebrou meu braço. Tinha cliente que mandava a gente embora do motel nua. Eu era um lixo para a sociedade”, analisa.

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Apesar dos riscos, Evanir permanecia na prostituição para comprar drogas. “Houve uma noite, quando eu trabalhava em um bordel, que eu atendi 38 homens. Eu estava muito drogada. É a única forma de aguentar isso”, relata. Evanir sabia dos perigos de contaminação de doenças, porém, o vício não a deixava ser racional. “O cliente falava assim, eu te dou uma grana a mais para fazer sem preservativo. Eu aceitava. Queria drogas, era nisso que eu pensava.”

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Ainda que familiares ou conhecidos oferecessem abrigo, Evanir não conseguia sair das ruas. A necessidade de se dopar era mais forte do que ela. Em Campo Grande, chegou a morar na antiga rodoviária com mendigos, sempre procurando locais onde tivesse acesso aos entorpecentes.

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A mulher teve várias doenças sexualmente transmissíveis ao longo da vida, até que um dia se surpreendeu com o diagnóstico do HIV. Pensou em suicídio várias vezes e, ainda hoje, se sente muito culpada. “Não sei quando eu peguei a doença e de quem. Eu fico me perguntando quantos homens eu contaminei? Quantos homens contaminaram suas esposas ou namoradas depois que estiveram comigo? É algo muito doloroso dentro de mim”, admite.

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A vida nas drogas e prostituição deixou ainda outra marca profunda em Evanir. Aos 26 anos, ela perdeu a guarda do filho mais velho. Mais tarde, perdeu novamente o menino para o tráfico de drogas. O rapaz acabou assassinado. “Ele me viu drogada e prostituída. Não fui uma boa mãe, mas ele me deixou um neto, uma herança. Quero que ele veja a diferença.”

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Além do neto, Evanir tem hoje outra razão de viver, o filho mais novo, João Victor, fruto do segundo casamento que também terminou em divórcio, após brigas e agressões. O menino nasceu quando ela já tinha o HIV. Porém, como já sabia do vírus, tomou todos os cuidados e o garoto não foi contaminado. “Com o João, estou tendo a chance de ser mãe de verdade. Acompanho as atividades dele e sempre quero saber de tudo. Sou tão protetora que às vezes ele diz: mãe você me sufoca.”

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Evanir deixou as ruas inicialmente pelas mãos do Projeto Nova — assunto de matéria anterior do Diário Digital, que atende prostitutas e mulheres vítimas de violência. O projeto oferece apoio psicológico e também material às mulheres. Ao mesmo tempo, Evanir começou a frequentar uma igreja evangélica e afirma que a fé em Deus a mantém longe das drogas. Lúcida, a mulher alcançou feitos inéditos. Foi a primeira portadora da HIV a conseguir uma cirurgia bariátrica pelo SUS. Hoje, está reduzindo as medidas, cuidando de casa, de João Victor, e da alma. Ela toma todo o coquetel de medicamentos indicados para quem tem o vírus e busca constante acompanhamento médico.

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Evanir mora com o filho adolescente em um conjunto habitacional do Parque do Sol, em Campo Grande, e ganha a vida como vendedora de cosméticos. Ela se tornou obreira voluntária na igreja e não esconde nada de ninguém. Postou em suas redes sociais que é portadora do HIV e fala abertamente sobre tudo o que passou. Também é frequente em citações bíblicas.  “Hoje, quero ser um exemplo para as minhas amigas e mulheres que ainda estão na rua. Eu era um lixo para a sociedade. Estou com HIV e mesmo assim recomecei. Eu me sinto outra pessoa. Quero mostrar isso a elas. Provar que uma nova vida é possível”, diz.

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Da paixão ao sofrimento – Assim como Evanir, Bruna Oliveira dos Santos também vive uma nova vida após uma fase na escuridão. A jovem sempre teve uma família bem estruturada. Cresceu numa casa humilde, mas cercada de atenção e amor no município de Amambai. Seus problemas começaram em 2010, aos 20 anos, já em Campo Grande, quando ela conheceu o padeiro do supermercado onde trabalhava. A operadora de caixa se encantou a tal ponto que após um mês de namoro foi morar com o rapaz. “Ele tinha fama de briguento no trabalho, mas para mim parecia ser diferente. Era a melhor pessoa com quem eu tinha me relacionado até então.”

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Dois meses depois, o namorado começou a revelar outra face. Ele questionava as roupas da mulher e o jeito dela falar. Mas, até então, aos olhos de Bruna, isso era a maneira do companheiro cuidar dela. Passado pouco mais de um ano que viviam juntos, houve a primeira grande briga do casal. “Fomos jantar na casa de amigos e ele se irritou porque a comida demorou a sair. Discordei daquele comportamento e discutimos. Ele me deixou no local sozinha e foi embora. Em seguida, eu fui também. No caminho de casa, ele me empurrou e me deu um tapa. Já em casa, a briga continuou. Dentro do banheiro, ele me deu um soco na cabeça. Eu desmaiei. Quando acordei, ele estava em cima de mim., chorando e pedindo perdão”, relembra.

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Bruna perdoou, mas ficou intrigada com aquela explosão de violência. Mais tarde, descobriu que o companheiro tinha usado drogas no passado e, além disso, ficou sabendo de um processo por violência doméstica movido pela ex-mulher dele. “Quando questionei, ele alegou que a ex-mulher era bipolar e agressiva e por isso brigaram. Eu o amava e acreditava nele.”

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A essa altura, embora não se desse conta disso, a jovem já era totalmente manipulada pelo companheiro, com quem agora estava casada. “Eu me lembro dele me dizendo que era um favor estar comigo e que eu não conseguiria nada melhor do que ele. Dizia que eu era uma coitada que não tinha profissão e que eu nunca iria vencer na vida. Ele era um profissional e eu apenas uma operadora de caixa. Eu acreditava no que ele falava. Hoje, entendo que o agressor te manipula fortemente e abala sua autoestima”, avalia.

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Embora já estivesse sofrendo todos os tipos de violência na relação, Bruna continuava completamente dominada pelo agressor. O companheiro não admitia ser contrariado. No carnaval de 2017, ele brigou com o namorado da irmã. Nervoso, mais uma vez, ele deixou Bruna sozinha para trás, situação que havia ficado comum. “Eu tive um momento de reflexão e rompi com ele pela primeira vez. Ele chorou e me pediu para ficar, mas eu estava decidida a sair. Fui para a casa da minha mãe.”

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Bruna afirma que ficava em silêncio sobre o comportamento do companheiro por várias razões. Ela tinha vergonha de assumir para a família que o relacionamento ia mal. Preferia deixar todos acreditarem que ela se dava bem com o marido e que era feliz. Assim, seguia sem se abrir ou denunciar o agressor. “Além disso, eu pensava que se o poupasse, seria poupada também. Mas, isso não acontecia. As agressões eram sempre piores com empurrões e socos mais fortes”, relata.

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Passados três meses da primeira separação, Bruna voltou à antiga casa para ver o cachorro do casal. Ele brigou com ela e a agrediu na frente da nova namorada. No mês seguinte, ela pediu o divórcio. O companheiro não aceitou e passou a insistir que retomassem a relação. Bruna ainda o amava e cedeu. O primeiro mês foi bom, segundo a jovem. Depois, ele passou a demonstrar ciúmes e a tentar controlar a esposa. Um dia, no meio de uma discussão, ele atirou o telefone celular da mulher na parede. “Ele me empurrou e deu vários socos, saí correndo de casa. Minutos depois, eu voltei e disse que tinha chamado a polícia. Ele ficou com medo de ser preso e fugiu.”

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Dessa vez, para Bruna, o casamento tinha acabado definitivamente. Semanas depois, ela ficou sabendo que ex-marido já estava em outro relacionamento e tentou seguir a vida sem pensar no que tinha passado. Porém, o homem voltou a procurá-la, primeiro pelas redes sociais e em seguida por telefone. “Eu não queria ceder. Eu sentia que ele ficava contrariado. Algumas pessoas me alertavam que eu deveria tomar cuidado com ele. Mas, eu achava que era exagero, mesmo porque ele tinha outro relacionamento. Continuei minha vida.”

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Noite do terror – Na noite de 3 de novembro, Bruna trabalhou até tarde e só chegou em casa por volta da meia-noite. Cansada, dormiu rápido, sem imaginar o que estava prestes a acontecer nas próximas horas. Por volta das 3h, o ex-companheiro invadiu a residência. Ele entrou no quarto e passou a agredir a mulher que despertou com os socos, chutes e golpes de capacete desferidos pelo homem.

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“Ele simplesmente me batia, eu não conseguia falar nada. Tinha a sensação de que era um pesadelo. Corri para fora. Ele pegou uma barra de ferro e me bateu várias vezes nos braços. O golpe mais forte foi na minha cabeça. Corri por cinco ou seis quadras gritando. Bati em vários portões, ninguém saía. Eu ouvi o barulho da motocicleta dele e corri para a avenida na esperança de conseguir ajuda. Ele passou por mim, retornou e tentou me atropelar. Eu caí no chão, foi quando ele desceu da moto e começou a me chutar. Eu desisti. Não aguentava mais. Pensei que ele me mataria.”

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Bruna perdeu a consciência. Ela se lembra apenas de ter acordado com quatro pessoas, que seriam dois casais, em cima dela, perguntando o que tinha acontecido. O agressor ainda estava por perto e disse que os dois brigaram porque ela o traiu. Bruna não conseguia pronunciar nada, apenas chorava ensanguentada. “Enquanto eu tentava me levantar, notei que aquelas pessoas discutiam entre si. Eles se perguntavam porque tinham parado ali se, na verdade, era uma briga de marido e mulher e eles não tinham nada a ver com isso. Em seguida, entraram no carro e foram embora.”

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O agressor também se foi, mas Bruna estava sozinha e com medo de o ex-marido voltar para concluir o crime. “Foi aí que ouvi uma voz me chamar no escuro. Eu apenas a segui. Era um homem que morava ali perto. Ele me escondeu e chamou a polícia e os bombeiros.” Bruna foi levada para Santa Casa onde ficou internada. Ela teve vários cortes no rosto que ficou desfigurado. A cabeça ficou inchada devido às várias pancadas. Nos braços, ela teve fraturas e precisou colocar placas.

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Graças às informações repassadas pela vítima à polícia, como o endereço de parentes dele, o agressor foi preso em flagrante na mesma data do crime. O homem permanece no sistema prisional de Campo Grande e responde a processo por tentativa de feminicídio.

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Já a vítima enfrentou um doloroso processo de recuperação. As lembranças do agressor acertando a cabeça dela estavam muito vivas. Bruna ficou imobilizada por 40 dias sob os cuidados da mãe. “Somente após 15 dias dos fatos é que eu realmente entendi o que havia acontecido. Ele tinha tentado me matar. Fiquei muito abalada. Foram várias noites sem dormir.” Bruna lembrou-se que precisava pedir uma medida protetiva e procurou a Delegacia da Mulher (Deam). Ela foi encaminhada para o Centro Especializado de Atendimento à Mulher (Ceam), nessa porta, aliás, a jovem descobriu o caminho para uma transformação.

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“No Ceam, passei por um tratamento psicológico. Só aí eu consegui entender que a violência não é culpa da vítima. Passei a compreender o por quê de ter ficado presa àquele relacionamento destrutivo por tanto tempo. Eu acreditava que eu o levava à violência e que, por minha culpa, ele ficava nervoso e me agredia”, explica.

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Nas sessões, a psicóloga do Ceam percebeu que falar sobre o assunto fazia bem à Bruna. Então a estimulou a fazer isso nas reuniões. “Eu fui convidada a relatar minha experiência para outras mulheres que procuravam atendimento no Centro e descobri uma força enorme. Comecei a me abrir e a dizer para outras vítimas que é possível sim sair de um relacionamento que te faz mal.”

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Volta por cima – A volta por cima de Bruna foi tão rápida que surpreendeu até mesmo os especialistas do Ceam. Ele chegou ao centro em dezembro de 2017 e em março deste ano já estava falando sobre sua experiência para outras mulheres. “Não gostamos de falar sobre casos específicos, mas verdadeiramente a Bruna é marcante para nós. A violência que ela sofreu foi muito severa e se reconstruiu em pouco tempo. Em questão de meses, ela passou de vítima de tentativa de feminicídio a alguém forte o suficiente para ajudar outras mulheres”, diz a titular da Subsecretaria de Políticas Públicas para Mulheres, onde funciona o Ceam, Luciana Azambuja.

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Bruna acredita que o modo de acolhimento no Ceam foi decisivo para sua recuperação. “Aqui eu não me senti julgada. Fui ouvida. Me disseram que eu era a vítima e que não precisava me envergonhar. Comecei a falar e com isso me libertei. Hoje, esse é um assunto que não me incomoda mais.” Bruna é contratada da Subsecretaria e atua como técnica em políticas públicas para mulheres. Sua função, é usar sua experiência para ajudar outras vítimas de relacionamentos abusivos.

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Nas palestras, a jovem está sempre pronta para dar uma injeção de ânimo nas outras mulheres. “Digo que elas não são aquilo que as pessoas dizem. Você é aquilo que você sente que é. Nenhuma mulher precisa de alguém para ser feliz. Sei que estou lidando com um assunto muito delicado. As pessoas sentem vergonha de falar. Eu escondi da minha família toda a violência que eu sofria. Mas, tudo pode mudar e mudou. A minha vida hoje é muito leve”, detalha.

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Sobre o ex-companheiro, Bruna afirma não ter nenhum sentimento em relação a ele. “Eu desejo que seja feita justiça. Não tenho nenhum tipo de sentimento. É como se ele não tivesse existido, foi um filme de terror que eu assisti e desliguei. Hoje eu sou a Bruna de verdade e nada é melhor do que isso. Queria que toda mulher se sentisse assim.” Bruna afirma que não ficou traumatizada, mas sim vacinada, como ela própria define. “Não me fechei para novos relacionamentos, não tenho medo. Eu não acho que vai acontecer de novo, contudo estou apenas mais atenta. Presto atenção em expressões machistas e preconceituosas. Mas, eu estou feliz solteira. Eu me alimento muito de mim mesma.”

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O Ceam – O Ceam está à disposição das mulheres, independente do encaminhamento da delegacia. O Centro é preparado para atender vítimas de violência com uma equipe especializada e também pode receber mulheres que estejam apenas em busca de orientação ou aconselhamento, sem necessidade de registro policial.

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Somente no mês de julho, 195 mulheres procuraram o local. Na entrevista concedida em vídeo (abaixo), a subsecretária de Políticas Públicas para Mulheres Luciana Azambuja detalha o atendimento no Ceam e também aponta quais estruturas públicas estão à disposição das mulheres vítimas de violência no interior do Estado.

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Segundo dados da subsecretaria, desde que foi aberta a Casa da Mulher Brasileira em Campo Grande em fevereiro de 2015 até julho deste ano, foram registrados 25.392 boletins de ocorrências por violência contra a mulher. Somente no primeiro semestre deste ano, no Estado, foram 8.607 registros, entre os quais há 18 feminicídios e 615 estupros. “Os números têm crescido, mas a subnotificação ainda é muito grande. Acreditamos em pelo menos o dobro”, diz a subsecretária.

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Para Luciana Azambuja, o caminho para encorajar as mulheres é falar abertamente sobre o assunto. No ano passado, o Programa ‘Maria da Penha vai à Escola’ alcançou público de mais de 157 mil pessoas em todo o Estado, segundo a subsecretaria. Neste ano, estão sendo implementados o ‘Maria da Penha vai à Igreja’, ‘Maria da Penha vai ao Campo’, ‘Maria da Penha vai ao Terreiro’, ‘Maria da Penha vai aos Bairros’ e ‘Maria da Penha vai ao Quilombo’, o que irá aumentar o alcance do público informado sobre o assunto.

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Medida protetiva – Um mecanisno atualmente bastante solicitado para dar proteção às vítimas de violência é a chamada medida protetiva. Campo Grande, aliás, foi a primeira cidade brasileira a ter uma vara especializada em medidas protetivas no Brasil, trata-se da 3ª Vara da Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher.

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Conforme a juíza titular da Vara, Jacqueline Machado a mulher pode solicitar a proteção sempre que estiver sofrendo violência física, moral ou psicológica. Vale mencionar que a medida protetiva só é aplicada para casos previstos na Lei Maria da Penha que trata de violência de gênero (em razão de ser mulher) no relacionamento afetivo, no ambiente doméstico e familiar.

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Atualmente, três mil medidas protetivas estão em vigor em Campo Grande. A Vara recebe cerca de 20 solicitações por dia. “Para obter a medida, a mulher pode procurar a Casa da Mulher Brasileira, a Defensoria Pública, o Ministério Público, ou fazer o pedido através de um advogado, neste último caso é preciso apresentar testemunhas ou provas de que a mulher realmente esteja correndo riscos”, detalha a juíza.

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A Vara específica de violência doméstica deu agilidade aos pedidos das mulheres. O caso é analisado em, no máximo, 24 horas. A medida protetiva aplicada dependerá da situação. A Justiça pode determinar que o agressor se afaste da vítima ou do lar, fixar limite mínimo de distância, proibir contato com a mulher, seus familiares e testemunhas, entre outras imposições.

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A juíza lembra que, por lei, o descumprimento das medidas protetivas é considerado crime. “Dessa forma, se houver desobediência, a gente pode endurecer a medida, determinar o uso de tornozeleira ou mesmo pedir a prisão desse agressor”, relata.

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Na avaliação da magistrada, a medida protetiva é um instrumento muito eficaz na proteção às mulheres. Contudo, ela alerta que cabe à própria vítima colaborar com a medida judicial. “A mulher precisa comunicar imediatamente os casos de descumprimento. Já houve situação em que a vítima demorou 20 dias para delatar o agressor que descumpriu a restrição. Não pode ser assim”, enfatiza.

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Nos primeiros três meses após a concessão da medida protetiva, a Patrulha Maria da Penha da Guarda Civil Municipal de Campo Grande monitora a vítima. Passado este período, se a mulher não estiver mais sendo intimidada, o monitoramento é suspenso. A partir daí cabe à própria vítima comunicar a aproximação do agressor.

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Serviço – O Ceam fica localizado na Rua Pedro Celestino, 437, e disponibiliza o telefone 0800 67 1236.

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A Casa da Mulher Brasileira fica na Rua Brasília, no Jardim Imá. Os telefones são (67) 3314-7557 / 7550.

 

 

 

 

 

 

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