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A POESIA FEMININA E FEMINISTA DE MARIA REZENDE

Saiu no site ARATU ONLINE :

 

Veja publicação original:  A POESIA FEMININA E FEMINISTA DE MARIA REZENDE

 

Poesia direta, sem rodeios. Hora com doçura, daquelas que dá um afago no coração. Às vezes com aquela sensualidade na medida certa. É assim que é Maria Rezende.

À medida que fui lendo e conhecendo seu trabalho, logo ficou claro: Maria é feminista!!!! Como ela está de passagem por Salvador com o recital de poesia “CARNE DO UMBIGO”, amanhã e sexta (14 e 15/9) no restaurante Poró (Santo Antônio Além do Carmo), aproveitei para conversar com ela e saber mais. Ela era daquelas que já era feminista sem saber, mas quando se deu conta, foi lindo! Confiram a entrevista.

  1. Em um post do seu blog você escreveu “Depois que me descobri feminista me dei conta de quantos poemas eu tinha sobre o feminino e o que é ser mulher”. Como foi esse processo da descoberta do feminismo para você? É curioso porque eu demorei bastante pra me descobrir feminista, embora isso esteja presente na minha poesia desde sempre. O feminismo chegou pra mim poderoso e transformador num momento em que eu estava muito frágil, muito desmoronada, e em plena passeata das mulheres contra o Eduardo Cunha em 2015 lá no Rio eu peguei o megafone e disse meu poema “Pulso aberto”. De repente foi me subindo do chão uma força, subindo dos pés pelo meu corpo acima, e quando eu terminei de dizer eu estava trêmula e em prantos e eu pensei “Como é que eu posso não estar sabendo quem eu sou? Eu sou a mulher que foi ao Uruguai porque ama Eduardo Galeano, deixou no café que ele frequenta um livro de presente, recebeu em casa um mês depois um livro dele chamado “Mulheres” com uma dedicatória linda, leu esse livro de enfiada e escreveu esse poema, e agora tem a força de pegar um megafone e falar pra essas mulheres poderosas aqui reunidas, na rua, pra lutar pelos nossos direitos. Eu sei muito bem quem eu sou e quem eu sou é uma puta mulher bacana.” Aquele momento mudou a minha vida, de verdade, sem demagogia, de dentro pra fora.
  2. Como você via o feminismo antes? E vê agora? Eu via o feminismo com aquele clássico preconceito, como um movimento de mulheres que não gostam de homens e são contra depilação e fazer a unha…As pessoas confundem demais o que o feminismo é, né? O feminismo é a crença de que todas as pessoas merecem os mesmos direitos na sociedade. Não é a crença de que somos melhores, ou de que merecemos mais direitos do que os homens, e nem de que somos iguais, porque ninguém é igual, na real. Nesse momento em que eu me descobri feminista por dentro, me percebi parte de um grupo de mulheres que não vão mais se conformar com as limitações que nos são impostas, que não querem mais naturalizar o desconforto e a violência cotidiana a que estamos submetidas, e entendi que esse é um movimento muito plural, não existe O FEMINISMO, existe o feminismo de cada uma. Tem quem seja a favor da inclusão das mulheres trans no movimento, e quem seja contra. Tem quem seja radical na condenação da prostituição, e quem queira incluir as profissionais do sexo. Tem quem ache que os homens não devem dar pitaco sobre feminismo e quem queira eles perto. Tem o feminismo das mulheres negras, com pautas muito específicas e fundamentais. Eu sou uma feminista inclusiva ou interseccional. Quero todo mundo no bonde, os homens inclusive, porque se eles não mudarem o mundo não muda, e eu miro longe: quero mais é mudar o mundo com as minhas minas.
  3. Uma das suas poesias mais conhecidas é a do “Pau Mole”. Quando você escreveu ela, ficou com receio das críticas? Recebeu comentários machistas? O “Pau mole” foi dos primeiros poemas que eu escrevi, no início dos anos dois mil. Ele circulava em saraus e no Cep 20.000, e já causava um auê danado. É um poema sem graça em termos de forma, mas acho que ele conquista porque é singelo, e fala de um espanto genuíno, de uma descoberta, joga luz sobre um assunto que muita vive na intimidade mas quase ninguém conversa sobre, né? De um certo modo, como me disse um ex namorado, ele “salva” o macho do seu papel tão pesado de ter que ser infalível, então é um poema anti machista por natureza, e nesse sentido é um poema feminista. Curioso que não tenho registro de comentários machistas, mas sim de muitas cantadas sem graça tipo “se você gostasse de pau duro a gente podia conversar”, e eu suspiro e digo “migo, jura que cê acha que foi o primeiro a pensar nessa piadoca?”. É claro que eu tenho muito mais poemas sobre o feminino, sobre ser mulher, mas o homem me interessa profundamente, eu sou heterossexual então eu namoro e caso com homens, além de ter um pai, um irmão, mil amigos, e quem sabe se um dia terei um filho homem. Quanto mais a minha poesia e a minha vida cotidiana puderem trazer pra luz essas questões, com afeto e cuidado, melhor.
  4. As mulheres que você lê, quem te inspira mais? E por que? Elisa Lucinda é minha mestra, foi quem me ensinou a dizer poemas e foi daí que a minha poesia nasceu, e eu sou profundamente fã da escrita e da fala e da militância literária dela. Das poetas consagradas, Adélia Prado e Hilda Hilst pra mim são casa. Viviane Mosé é uma contemporânea de uma geração acima que eu leio e releio sempre. Eu também sou fã de muita gente da minha geração. E embora esteja fora do grande circuito de festivais, eu ando pelo circuito alternativo, feito na garra por gente cheia de afeto, e assim saio conhecendo muita gente bacana pelo país afora. A Ana Martins Marques, mineira, é musa absoluta. Lá do Rio tem a Bruna Beber, com um olhar surpreendente, doce e afiada, a Letícia Novaes, que é poeta de livro e de canção, e sempre me sacode toda por dentro, a Aline Miranda, ainda inédita e maravilhosa. A Luna Vitrolira é uma pernambucana poderosa, que tem como eu essa tradição da palavra falada e quebra tudo com a sua poesia corajosa. E em Sampa recentemente eu descobri a Mel Duarte, uma poeta de slam, com uma poesia muito urbana e forte, a Michelle Navarro, que mistura potência e delicadeza, e a Aline Bei, que tá me tirando do eixo com a sua poesia prosaica e absolutamente desconcertante. Sem falar na Matilde Campilho, portuguesa maravilhosa que mistura os sotaques daqui e de lá e faz uma poesia universal e deslumbrante. Enfim, uma pá de poetas que eu leio cheia de espanto e admiração.

Espetáculo Carne do Umbigo
Gênero: Poesia
Dias: 14 e 15 de setembro
Horário: 20h30
Entrada: R$20
Local: Poró Restaurante & Bar (Rua do Carmo, 13 – Santo Antônio do Carmo) *Lançamento inédito dos Livros Substantivo Feminino (2003), Bendita Palavra (2008) e Carne do Umbigo (2015) com sessão de autógrafos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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